segunda-feira, 9 de junho de 2025

Vá Pra Merda Seu Fela da Gaiata!!!

Por Belarmino Mariano.

Tu acredita que ele destampou o verbo no meio da feira livre!? Pensei na hora, é boca de confusão e vai dá briga, mas na mesma hora o feirante seguiu morrendo de rir, retrucando com a frase: "vá lavar o bucho d'uma égua!"

Lembrei logo da minha grande amiga e professora de língua portuguesa, Sandra Sueli C. Bezerra, pois foi dela que ouvi pela primeira vez, a expressão sociolinguística, em que as falas ou frases coloquiais usadas pelos populares, independente da maneira como estão escritas ou foram pronunciadas, não podem ser consideradas erradas.

Com essas variantes da fala a gente se expressa socialmente, como de fato, a língua viva e falada, expressa diretamente a comunicação das pessoas, denota o quanto ainda estamos linguísticamente vivos e ativos.

A frase é uma expressão vulgar e ofensiva que se usa para desejar a alguém que vá embora ou que se afaste. A tradução mantém a agressividade e o tom ofensivo, mas no Nordeste é comum ouvir frases como essas, em especial no meio popular.

Para um estranho ao linguajar coloquial dos nordestinos, talvez ficasse claro, pelo tom da voz, que se tratou de um insulto, injúria ou chingamento e de fato foi, tipo: "vá a merda, filho da mãe!" 

Já a expressão "fela da gaita!" Para designar "filho da mãe", fica mais complicado de correlacionar e só quem conhece o dialeto e o sotaque nordestinebse, vai de fato entender. Gaita é um instrumento de sopro de origem chinesa, muito comum na Europa e trazido para as Américas pelos colonizadores. Uma coisa é certa, um bom tocador de gaita, no meio de uma feira, consegue arrecadar muitas moedas e "couro de rato" em notas de dois reais.

Mas o incrível é saber como alguém fez essa relação da gaita com uma mãe, ao pontemo de servir até como chingamento. Trocar a mãe pela gaita é estratégia linguística, pois você chinga o cara, a mãe dele e aínda fica engraçado, transformando a injúria em humor popular.

Acho que ser nordestino ainda é guardar, muito do jeito lusitano em nossas raízes, pois soube que os portugueses também gostam de palavrões e expressões parecidas. Acho que parte de minhas origens estão "Por Trás Dos Montes", Norte de Portugal.

Em Lisboa ou no Porto, um português diria: "hora pois, tu vaz ao inferno seu filho de uma rapariga!" Quando um nordestino está deveras injuriado é manda logo o outro "tomar no olho da goiaba bichada" e por aí vai... muito parecido com outras expressões.

Praguejar era um dos dialetos preferidos de minha mãe. "Cão Coxo", "infeliz das cistas ocas", "mucuna rasteira", "febre tife", "cururu teitei", "cu seco", "tá parecendo um afragelado", "afuleimado"... você lembra de algum dizer?

Por Belarmino Mariano. Dia de Feira.