terça-feira, 30 de setembro de 2025

Sonho ou déjà vu


Por Belarmino Mariano*

Em nada parecia um sonho, era como se fosse um fragmento existencial fora de contexto temporal em lugar nenhum, uma espécie de 'déjà vu', combinando a vida fora do lugar.

Quando cheguei em casa em uma manhã nublada do final de setembro. Tinha tomado banho e em seu leito, se preparava para almoçar. Cheguei vagarosamente e lhe cumprimentei com um sorriso no rosto e segurando em suas duas mãos com carinho.

Com 91 anos de idade, me observou como se fosse um enigma a decifrar. Quem é? Essa interrogação fez eco no quarto em penumbra. Eu estava com 61 anos e existiam 30 anos nos separando. Esse lapso de existência me confundiu completamente e fiz a mesma pergunta em minha mente.

Parecia um koan budista ecoando em nossas mentes. Não havia consciência declarada e a dúvida ou desespero tomou conta de mim mesmo. O que estava fazendo ali? Quem era aquela pessoa, naquele cenário familiar?

Tudo era puro enigma e suas memórias estavam perdendo vigor e, igual aos refugiados, aquela pessoa enfrentava dificuldades em relembrar nomes, pessoas e lugares. Sua acompanhante explicou que estava tudo bem e que aqueles lapsos de memórias eram comuns.

Lhe perguntei o que eu estava fazendo ali? Quem era? Onde eu estava? A jovem enfermeira me respondeu bem simples. Sou sua primeira neta, ele acordou cedo e contou que havia sonhado com você, vindo lhe visitar só agora. 

Não soube explicar, mas disse que você era um homem confuso, era um péssimo poeta e escrevia textos marginais e repugnantes. Parecia até o profeta Oséas e seus duros versículos contra os próprios judeus em declínio da fé. Disse que estava relembrando dos seus escritos rebeldes sobre a obscuridade e limites do seu tempo.

Suas rugas e sua fisionomia familiar, seu traços e seus olhos castanhos claros e distantes, despertou a minha consciência e acordei como se tivesse feito uma viagem astral de trinta anos. Lembrei de meus dias e acredito ter me encontrado em meu próprio leito de morte.

Por Belarmino Mariano. Imagem do autor.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Amor in Ficção


Por Belarmino Mariano*

Em um piscar de olhos e tudo acabou, mesmo não tendo sido um ponto final e nem a seta exata de uma bússola quabrada em um naufrágio universal. Aqui eu nasci, cresci, me criei e morri. Assim como em uma utopia, lugar nenhum, terra de ninguém. 

Solo e vegetação ressecados, sol castigando e na linha do horizonte o vale das lamentações, como as nove esferas de Dant Halighier delimitam as profundezas da calma, da alma e da alegria. Aqui o sal guarda o sabor; o doce agrada ao paladar; o azedo aumenta a salivação e o apimentado queima e arde como fogo em brasa, mas o que é saborear a vida, sem saber dosar todas essas coisascom o amargo?

O tempo aqui não existe, o que há é ventania e tempestade enfurecidas pelo princípio do caos e incertezas ao acaso. Os deuses estão mortos e o amor é coisa para amadores e lunáticos.

Aqui a vida é assim, sem bagagem e nem peso para carregar.
Se você quiser, me leve, livre e sem peso que lute, pois a vida é assim, meio sem sentido, cheia de subidas e descidas. Maneira, leve e suave, mas, em um piscar de olhos e tudo pode acabar.

Pesada igual pedra de construção, é difícil demais não ter bagagens nessa vida e, em minhas lembranças mais distantes, ainda penso em você. Mas nessa caminhada sigo em silêncio, a vida vai me levando, sem saber aonde vai chegar, como se fosse um navio cheio de crecas, ancorado em destroços de quebra mares.

Um dia desses, fiz as nossas antigas rotas, me olhei por dentro e nos vi desenhando sonhos, fazendo arranjos de incertezas. Foi uma experiência solitária e triste, mas percorri distâncias e senti que viver de ilusões é um destino terrivelmente incerto.

Te olhei cinco passos à frente, tinha soltado tua mão e, enquanto amarrava o cadarço do tênis, você parou e olhou para trás. Ali fiz a besteira de te pedir em amor para sempre. Te assustei muito mais do que podia imaginar e nas profundezas do teu ser, saíste assustada para nunca mais voltar.

Era amor pra dar e sonhar, mas foi tudo um mau entendido, pois aquela aliança não te servia tanto assim. Afinal de contas, ainda eram frutas verdes e achei que estavam maduras. A pressa foi inimiga ou quem sabe era isso mesmo, te perder e me perder de te encontrar por séculos sem fim.

Esses nossos passos se desencontraram e os sonhos se perderam em meio a fumaça e fuligem da cidade. Até tentei entender, busquei lugares tranquilos, beira de mar, por-do-sol e caminhos de terra, em matas e cachoeiras. 

Eu até te esperei, fiquei horas contemplando paisagens, observando formigas apressadas em trilhas de folhas cortadas para um inverno seguro, enquanto uma tempestade se desenhava naquela manhã de setembro. Era um exército de saúvas, muitas e disciplinadas e juro que me vi naquela pequenez de corpos instintivos e frenéticos.

Quando parava, via o mundo balançando em nuvens passageiras. Via o gavião sobrevoando a copa das árvores e ouvia o barulho da água em corredeiras, nas pedras da cachoeira. Era tudo muito natural e eu ali, sem saber o que estava acontecendo comigo. Mergulhei profundamente e chorei por entre as pedras de onde Oxum tomava banho de Sol.

Tudo em vão, tudo sem explicação e como não fazer plenamente aquilo que parecia certeza absoluta. O que ainda me machucava era lembrar de te ver chorando, por não saber o que sentias. Isso ainda me assombra, pois sentimentos e emoções racionalizados, fodem com a gente.

Esse teu cristianismo tosco e tuas verdades arcaicas conseguiram destruir qualquer chama de possibilidades. O mundo ficou grande demais e mesmo respirando fundo, ficamos sem ar e mesmo assim, ainda não sabemos o que aconteceu de fato, pois somos estranhos demais.

O que eu sinto, não sei explicar, não consigo dizer se é amor, paixão ou coisa parecida. Parece arrogância e até ignorância querer negar o que sinto, mas ainda sonho com você. Ainda me perco tentando te encontrar.

Só sei de uma coisa, perder de te ver me deixou desconcertado, me tirou do eixo e ainda me sinto jogado contra as cordas nesse ring de relutantes ilusões. Nem posso te pedir para que saia do meu caminho, pois já faz tempo que não cruzo com o teu olhar.

Em meu amarguramento e teimosidades amorosas, vejo a roupa lavada e estendida no varal, em pleno frio de uma manhã nublada, me lembra o quanto ainda sinto a tua falta. A solidão é um reclame constante por você e isso me consome de verdade.

Estou quase me deitando nesse piso frio, só para adoecer de friagem e parar de pensar em você, congelar sentimentos de lembranças e assim morrer de medo em ter te perdido em algum lugar da vida, em algum canto da cidade que já foi toda transfornada.

O meu coração domesticado é prisioneiro dessa gaiola de emoções frágeis e selvagens. Na imensidão dos meus pensamentos você é aquele capinzal dourado a tremular por entre as ventanias de setembro.

Mas fazer o quê, se meu frágil sentimento em te amar, me impede de fazer besteiras. Então vou tomar um café forte e me aquecer só para reviver esse pensamento de sentir saudades em lembranças tuas. Pois como diz o poeta Adeildo Vieira, "amar demais até parece mal, mas nenhum outro mal nos faz tão bem".

*Por Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais.

 

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Uma Velha Jaqueira


Por Belarmino Mariano*

Nesse mundo raso, qualquer profundidade e reflexo do céu, como se estivesse permanente em um buraco negro. Reflexos cinzas de nuvens carregadas de umidade, refletidas pela luz do Sol, tingidas pela atmosfera nua.

Ao primeiro passo, passo a passo, um lapso tempo e a criança rasga os vazios como se sempre soubesse caminhar sozinha.

No céu da tua boca nua, minha língua é um paraquedas em queda livre para um abismo de emoções e sensações de línguas estranhas e eróticas.

Saí de casa cedo e me perdi nessa caminhada ilógica. Sentei no tronco dessa jaqueira velha e, como um Buda, me encontrei em profundo vazio, lá percebi que nada existia.

*Por Belarmino Mariano Neto.

domingo, 14 de setembro de 2025

Domingo de Aparente Calmaria

Por Belarmino Mariano*

Nesse domingo calmo de setembro, eram 09:13 horas quando saí para caminhar. De minha casa até a pracinha do bairro, percorro cerca de 472 metros de distância. Em meu fone de ouvido, através do Spotify tocava "Preciso me encontrar" (Cartola). O samba de Cartola é calmo como esse domingo de setembro. Aqui nos trópicos nordestinos, o calor e os ventos que varrem setembro, não são tão calmos assim.

Quando estava chegando na pracinha de minhas curtas caminhadas, estava tocando "Como nossos pais" (Belchior). Ali na pracinha entre a Churrascaria improvisada de Esteildo (O Gordo), o Posto de Saúde (UBS) e o local do parquinho das crianças, temos um pequeno percurso em calçadas que dá cerca de 247 metros de caminhada. Geralmente, tenho que dar quatro voltas para fazer 1 km.

No parquinho só estavam presentes, duas crianças e um velho. Era um cenário de manhã de domingo e eles estavam se divertindo nos aparelhos de ginástica. Aquela cena de avô com os netos, combinava com o recado de Belchior. Aquela ideia clássica de que "ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais..."

Cumprimentei o trio geracional e pensei no alfa e no omega, na gênese e no apocalipse. Ali estava uma síntese da vida que ecoava em Belchior, mas lembrei da voz de Elis Regina, naquela voz de faca amolada e cortante.

Como a voz, a poesia e as novas invenções dos que cantam sobre gente nova reunida e os nossos corações como feridas abertas no peito. Seja na voz de Belchior ou Elis, "Você pode até dizer, que eu 'to por fora / Ou então que eu tô inventando / Mas é você que ama o passado e que não vê / É você que ama o passado e que não vê / Que o novo sempre vem (...)"

Que música forte, sentimentos de verdade, sobre uma nova consciência, medos, angústias e dores, do que estamos vivendo nesse momento tão difícil, em que "eles queriam virar a mesa e voltar com uma ditadura, enquanto nós só queríamos virar a página". Por isso, enquanto caminho com a meta de uns cinco quilômetros, quero nesse pequeno artigo, trazer esse poema de Belchior na íntegra, pois os perigos ainda estão nas esquinas: 

"Não quero lhe falar / Meu grande amor / Das coisas que aprendi nos discos / Quero lhe contar como eu vivi / tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar / Eu sei que o amor é uma coisa boa / Mas também sei que qualquer canto / É menor do que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem / Há perigo na esquina / Eles venceram e o sinal está fechado prá nós / Que somos jovens
Para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua / É que se fez o meu lábio / O meu braço e a minha voz
Você me pergunta pela minha paixão / Digo que estou encantado como uma nova invenção / Vou ficar nesta cidade não vou voltar pro sertão / Pois vejo vir vindo no vento / O cheiro de nova estação / Eu sinto tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua
Cabelo ao vento /Gente jovem reunida /Na parede da memória esta lembrança é o quadro que dói mais / Minha dor é perceber / Que apesar de termos feito / Tudo, tudo, tudo, tudo que fizemos / Ainda somos os mesmos e vivemos / Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais
Nossos ídolos ainda são os mesmos /E as aparências, as aparências não enganam não /Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém / Você pode até dizer que eu tô por fora / Ou então que eu tô inventando / Mas é você que ama o passado e que não vê /
É você que ama o passado e que não vê / Que o novo sempre vem
E hoje eu sei, eu sei que quem me deu a idéia /De uma nova consciência e juventude / Está em casa guardado por Deus / Contando seus metais / Minha dor é perceber que apesar de termos feito / Tudo, tudo, tudo, tudo que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos / Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais..."

Hoje cedo, antes de sair para caminhar, enquanto tomava o café matutino, via o noticiário e o jornal fala que o ex-presidente, julgado e condenado por tentativa de golpe de Estado e tudo mais, já em prisão domiciliar, estava se dirigindo para um hospital do Distrito Federal para um procedimento clínico, verificar se umas manchas de pele. 

Na porta do hospital, ainda existia uma centena de apoiadores, fazendo registros de imagens dos celulares, enquanto gritavam " mito, mito, mito!" Até parece um cenário de possível tentativa de fuga, pois o hospital é bem próximo da Embaixada dos EUA. Muito estranho que, reapareça em público, mesmo que esteja de tornozeleira.

Enquanto alguns anunciam a morte política de uma organização criminosa liderada pelo ex-presidente, ainda vejo seus tentáculos em cada canto desse país. Confesso que Belchior, continua tão atual, quanto era em 1976, quando lançou "Como nossos pais", em plena Ditadura Militar. 

A nossa ditadura de hoje controla nossas casas eletronicamente, a nova ditadura é global e digital, alimentada por big thecs e por algoritmos muito bem monitorados pela mão invisível do mercado, em http://www.com. extremamente dissimulada e aparentemente neutra e benevolente.
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*Por Belarmino Mariano. Imagens das redes sociais. Fonte Original - Blog Carcará Observador.

(Fonte: LyricFind. Compositores: Antonio Carlos Belchior. Letra: Como Nossos Pais. ©Tratore). Imagem Cio/Sardinha.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

"O COMPANHEIRO BARUCH ESPINOSA NUMA SACADA DA AVENIDA PAULISTA"

Por Walter Falceta*

Conheci Baruch Espinosa em magistrais aulas da querida professora Marilena Chauí, na FFLCH-USP, décadas atrás. Poucas construções de reflexão acadêmica contribuíram tanto para a minha formação intelectual.

Aqui no escritório, enquanto escrevia sobre a ignomínia bolsonarista do 7 de Setembro, meu olho esquerdo foi atraído a um volume discreto na estante.

Trata-se do formidável "Tratado da Emenda do Intelecto", em uma bela edição da Editora Unicamp, com introdução, comentários, versão em Latim e versão traduzida em Português.

É impressionante como a Filosofia, não qualquer uma, mas a boa Filosofia, pode explicar o engano, a ilusão, o erro e a estupidez humana. Como essa dos otários que celebram o Tio Sam na data da independência do nosso Brasil.

Fiquei, pois, a imaginar o correto, inteligente e generoso Espinosa na sacada de um prédio, na Avenida Paulista, a observar lamentoso os faniquitos dos parvos em uniforme amarelo.

No livro citado, que é fácil de ler e compreender, o holandês de origem sefardita, nos oferece um maravilhoso método para melhorar o entendimento, emendar o intelecto e, assim, alcançar a verdade e a felicidade.

Ele não usa esse termo, mas basicamente começa dizendo que precisamos desaprender. Ou seja, é fundamental que nos livremos de ideias adulteradas, distorcidas ou confusas. 

Segundo ele, existe um conhecimento inadequado, que é baseado em conceitos parciais, imprecisos, incorretos, baseados em experiências particulares ou emoções pessoais. Eles conduzem a paixões e a graves erros.

Essa "saber" deriva do "ouvi dizer", do senso comum do grupo e de percepções enviesadas de dramas isolados, tomadas como referência para explicar situações gerais. 

O conhecimento adequado, ao contrário, resulta de ideias claras, precisas e colocadas à prova no mundo real. É o que aprendemos ao avaliar de forma integral um problema, adotando diversos pontos de vista, dissencando-o em todas as suas dimensões.

Espinosa fala em três formas de conhecimento:

- Por experiência ou opinião. É baseado em percepções sensoriais diretas ou relatos de outras pessoas. É suscetível a enganos. Especialmente porque valoriza a parte em detrimento do todo.

- Pela razão. É baseado na reflexão, que deriva do estudo metódico. Exige identificação das causas e das relações gerais. É um saber de integralidade analítica. Cada tese se submete ao crivo epistemológico do observador-investigador.

- Pela intuição. Essa é a forma mais elevada de conhecimento. Captura a essência das coisas, permitindo uma compreensão profunda da realidade. Veja bem, não é o achismo ou a ideia do vidente místico. Muito pelo contrário. 

É um exercício supremo da racionalidade, de modo que o observador-investigador pode categorizar cada fenômeno de forma precisa, depurando-o em seu complexo filtro de ideias. 

Era aquele saber holístico, que pode até contemplar a magia, mas a partir do crivo da razão, especialmente do ponto de vista ético.

É aquela sabedoria de gente como Aristóteles, Jesus, Adriano, Thomas Morus, Luther King, Jr., Marx, Gandhi, Malatesta, Einstein, Hawkins, Gautama, Maya Angelou, Mandela, Emma Goldman e o próprio Espinosa.

Na liberdade intelectual concebida por Espinosa, o homem liberta-se das paixões e é guiado pela razão, mesmo que ela admita a existência de Deus.

Para o grande filósofo, liberdade não é fazer o que se quer. Na verdade, é decifrar os códigos da natureza, entender suas demandas e agir de acordo com a razão, com adequado propósito, na busca de compreensão e solução.

Se interpretamos, de fato, os caprichos minúsculos da realidade, somos mais livres (do erro, da superstição e do fanatismo) e podemos ser mais felizes, em comunhão empática com a natureza e com o coletivo das outras mentes pensantes.

O desenvolvimento do intelecto exige um estudo permanente das ciências e dos elementos da lógica. Pede também uma investigação e uma reflexão profunda das causas dos fenômenos e das relações entre os acontecimentos.

No conhecimento inadequado, temos a ignorância persistente, a consequente paixão e, por fim, a escravidão interior.

No conhecimento adequado, temos o interesse genuíno e honesto pelo saber, o apelo à razão, o exercício analítico do pensamento e, como prêmio, a liberdade real e a felicidade interior.

Peço desculpas pelo resumo raso, mas é coisa lida há 40 anos. Também me penitencio antecipadamente por uso de termos inexistentes na obra ou neologismos, empregados (por minha conta e risco) para gerar maior clareza à mensagem.

Peço licença para elencar algumas ideias do companheiro Espinosa para clarificar os conceitos.

- O conhecimento verdadeiro liberta da escravidão das paixões.

- A razão é o caminho para compreender a ordem da natureza.

- O estudo, a reflexão e a lógica são ferramentas para emendar o intelecto.

- A imaginação nos engana quando confunde experiência parcial com verdade.

- As paixões desordenadas decorrem da ignorância da causa das coisas.

- A felicidade surge da compreensão racional e intuitiva da realidade.

- O conhecimento intuitivo é a forma mais elevada de compreensão humana.

- Quanto mais entendemos a essência das coisas, mais agimos em harmonia com a natureza e conosco mesmos.

Enfim, deve ser por essa razão que a extrema-direita (fascista e proto-fascista), no mundo inteiro, em qualquer tempo, odeia tanto os intelectuais e o pensamento racional.

Pensar de verdade, a partir da investigação científica da realidade, representa, na noite escura da ignorância, alcançar a estrada larga e iluminada do conhecimento.

É essa liberdade de ver, com clareza, que os tiranos relutam em conceder ao cidadão comum."

*Texto do Jornalista Walter Falceta. Imagem das redes sociais.

domingo, 7 de setembro de 2025

"Para os Golpistas é o Fim da Picada!"

Por Belarmino Mariano*

Longe do fim da picanha, essa peça bovina chegou a custar 89 reais na era do Bolsoloide. Com o governo Lula já é possível comprar por 39,90 reais. Longe de estarmos falando de picada de inseto, picada de injeção ou vacina, aqui a picada é outra.

Aqui não se trata de fim da picada, apenas se Carla Zambelli fizer uma delação premiada sobre a família Bolsonaro, inclusive se abrir o jogo sobre o hacker que agiu a pedido do Jair.

Aqui nos referimos ao adágio popular "fim da picada", quando caçadores estão no meio da mata e seguem uma vereda estreita (picada), muitas vezes feita anteriormente, com o corte de galhos, feito com facão.

"O fim da picada", pode ser o final do caminho, diante de um vale acidentado e de difícil acesso. Alí é o fim, dali para frente não existe mais trilha segura, seguir em frente é por conta e risco dos caçadores ou aventureiros.

Para o Clã Bolsonaro e seus apoiadores, depois do julgamento do primeiro núcleo golpista, agora é só esperar a pena, pois é o "Fim da Picada!" Até o "Antipastor Malla Cheia" já admitiu em vídeo que não existe mais saída e que Bolsonaro já foi condenado e, falta apenas o anúncio da pena, pois preso ele já se encontra.

Enquanto isso, o Congresso Golpista, insiste em querer rasgar a Constituição, querendo aprovar uma anistia ampla, geral e irrestrita. Assim conseguiriam escapar dos crimes que correm por dentro do orçamento secreto e também, com medo do núcleo 2 dos golpistas, comerciantes e empresários, até da Faria Lima. Estes serão ouvidos agora em setembro.

Os deputados golpistas, que foram bancados por esses empresários, tremem de medo da justiça, pois sabem que são sonegadores, contrabandistas e corruptos, ricos com patrimônio público e beneficiários de isenção e outros tipos de negócios. Estes, com certeza, todos assinarão acordos de leniência e entregarão toda a turma do Congresso, com senadores, governadores e tudo mais.

Eles sabem que, o que estão querendo é inconstitucional, por isso, tentam ganhar tempo, seguem nas encostas pedregosas do final da picada, entre as raízes das árvores e o vale profundo da morte política. 

Não confundir fim da picada, no sentido de não ter mais saída, com o fim da picada, como não ter vacina contra a COVID-19, ou com o fim da picada do mosquito da dengue que morreu de uma tapa, enquanto pertuava o sono de alguém. Para os golpistas, esse é o fim da picada!!!

Por Belarmino Mariano* imagens das redes.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Velho Pabuloso da Gota Serena!!!

Por Belarmino Mariano*

Quando a água bate na bunda, o sujeito que não sabe nadar já deve começar a se preocupar. Aqui no Nordeste velho vira véio e geralmente, mesmo véio, continua fazendo as coisas, trabalhando, conversando fiado e peidando enquanto cochila.

Hoje estávamos aqui na frente da Capelinha de Santo Antônio, na esquina de minha casa. Eram três velhos comigo. Seu Biu e o velho Paulinho. Pouco tempo depois chegou seu Nequinho puxando uma perna, depois que um pedaço de muro lhe acidentou.

Entre os gols da seleção, a prisão de Bolsonaro e as capas dos cadernos das escolas municipais de Guarabira, que vieram com a cara de Frei Damião desfigurado, tudo era bate papo (risadas).

Seu Nequinho, contou que ontem tinha feito o exame de próstata e uma ultrassonografia para avaliar a saúde. Entre as risadas machistas, Seu Biu perguntou se ele havia gostado do "fio terra" do doutor (risos)? Pra não ficar pra trás, seu Paulinho, perguntou se na ultrassom deu pra ver a idade e o sexo da criança (risos)? 

A risadeira tomou conta da reunião de aposentados ("desocupados"), que tomavam banho de Sol e jogavam conversa fora. Seu Biu, o mais pabuloso, disse que já estava com 68 e estava tudo em ordem com seus exames. Aí entrou aquela fala de homem com H. Disse que não lhe faltava tesão e todos os dias tinha ereção. 

Seu Paulinho com 84 disse, sou o mais velho dessa turminha e pense "num véi pabuloso da bixiga taboca". "Tesão de velho e é urina na cueca" (rissos).

Eu aproveitei a deixa e disse que só tinha 61 e que também não me faltava ereção (risos). Toda noite, por volta das 03:00 da madrugada, acordava com o bilau armado, e uma vontade danada de mijar, depois de aliviado, o "morto vivo" voltava ao sono eterno do resto da noite (risos).

Seu Nequinho com quase 78, deu uma gargalhada daquelas. Não contou história, disse que a minha conversa era mais realista. Aí ainda emendei, e olha que não fumo, não bebe e nem vivo de raparigagem (rsrsrsrs).

Seu Biu, em meio às gargalhadas, disse: -"O professor é realista demais, não deixa nem a gente sonhar!" Brincadeiras à parte, isso tudo é para nos alertar que o velho prevenido, não espera pelo novembro azul, pois, segundo o presidente Lula, o grosso entra mesmo em setembro. 

Cuidar da saúde masculina é necessidade de todos. Não importa se o setembro é amarelo, se outubro é rosa ou se novembro é azul, o fundamental é não perder o humor e nem a noção do perigo. Essa é a nossa intenção. O câncer de próstata e outros estão por aí, então se cuidem!

Por Belarmino Mariano. Imagens das redes.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

"Pomba Lesa, Feito Boca de Buc3t4!"

Por Belarmino Mariano*

É mesmo uma pomba lesa! Como assim? Alguns dizeres populares que minha mãe usava e nunca entendi direito os motivos e, quando a gente é criança, damos sentidos distintos para as coisas (rsrsrs).

Minha família nuclear era formada por 13 filhos/as, além dos meus pais, ainda tínhamos alguns primos e primas do interior, que viviam conosco, então entre filhos e agregados, facilmente chegava a 18 pessoas numa casa. Aos poucos três irmãos mais velhos migraram para o Sudeste, então a conta de 15 era normal.

Nasci em 1964, tempo dito duro, golpe militar, pressão internacional, guerra fria e família de origem rural. As mães eram raízes, o pilão e o moinho eram instrumentos domésticos essenciais e, quando a coisa estava muito difícil, minha mãe dizia: "isso é o cumunismo do fim do mundo" ou, "a coisa tá russa". E alguns nem acreditam que a ideologia dominante chegasse aos mais isolados lugares.

A minha mãe, Dona Gessi do Bonfim, que Deus a tenha, era leonina, uma mulher de raízes indígenas da Nação Cariri. Pense numa mulher valente e destemida. Pela sua labuta, tenho certeza que foi direto para o Céu.

Era uma pequenininha sem rodeios, braba que só uma ariranha presa num saco de pano. Para ela, a preguiça era o maior dos pecados e quando via coisa desmantelada partia pra cima, sem pena e sem dó.

Sou do tempo de banheiro no fundo do quintal e penico debaixo da rede e, quando a gente "mijava fora do penico", o pau cantava. Agora o pior eram as frases de efeito, ou dizeres que seu rico vocabulário de mãe nordestina não cessava.

De "fi de rapariga", "infiliz das costas ocas", "mucunã rasteira" a "pomba lesa", esses eram os mais leves. Sem esquecer que em um armador de rede, sempre tinha um cinturão velho de couro. 

Tu é doido maluco, pensa que estou de brincadeira!? Se minha mãe pegasse um de nós para exemplo, você não risse não, pois mangar dos irmãos no cinturão, era uma sentença de peia pra você também.

A gente até ria de cara virada, pois enquanto ela tocava o cinto, falava literalmente em línguas estranhas: "cão cocho, magote de fela da gaita, estrupiço, malacabado, cobra cascavel da peste..."

Com minha mãe amada, ninguém brincava em serviço, pois do contrário, "o cancão piava". Se o cabra desse uma de "João sem braço" ou de "abestalhado", ela entrava com a história da "pomba lesa". A minha imaginação ainda não tinha cognição suficiente e, ficava tentando imaginar uma pomba cagando na cabeça de todo mundo.

Deixa quieto, pois a "pomba lesada" que minha mãe falava era muito mais fálica do que penosa. Estava muito mais para "c4r4lh0 de asas" do que para pomba da paz. Se é que me entendem (rsrsrsrs).

Mas ela tinha outro dizer que só fui entender muitos anos depois. Quando a gente queria conseguir uma coisa na facilidade, sem muito esforço, ou quando ela queria resolver um probleminha pra gente, sem receber a ajuda necessária, ela saia com a seguinte frase: "Vocês são como buc3t4, só querem na boquinha!".

Hoje em dia, só uma mãe raiz de verdade, só uma avó com mais de oitenta saberia, interpretar essas frases literalmente. Somos da época em que "c4r4lh0 de asas" e "buc3t4 cabeluda" faziam parte do nosso imaginário coletivo. 

Levando tudo isso em consideração, pensando nos usos e abusos da língua portuguesa, fazendo uma rápida análise de consciência, é importante a gente entender que, vivemos no século 21 e até acreditamos que o mundo acabaria no ano 2000. 

Mas o mundo não acabou e as mães de hoje, com um único filho, as mães de pets, usam novos vocabulários e conseguem até ajudas psicológicas. Você mamãe de hoje, lembra de alguma frase de efeito, que a sua mãe ou avó usava para colocar as coisas em ordem?

*Por Belarmino Mariano. Imagem da rede.