"Da Lama aos Caos, do Caos a Lama e a Revolução da Nova MPB; Maracatu Atômico e tantas outras loucuras que só a arte libertária permite fazer acontecer."
Chico Science & Nação Zumbi incendiaram a música popular brasileira e desafiaram as estruturas da grande mídia e das rádios do país.
Direto do Nordeste para o Brasil e depois o mundo. Os grupos que deram origem e se fundiram na "Nação Zumbi", surgiram nos anos de 1990, como a maior novidade musical em décadas.
O "Chico Science & Nação Zumbi, da lama ao caos" (1993), primeiro discurso, inaugurou ou colocou a banda brasileira no mundo da música, controlado por gravadoras, fazendo mais sucesso no mundo do que no próprio Brasil.
Quando observamos esse fenômeno musical, vemos que tentaram calar a "Nação Zumbi". O que fizeram para destruir a Nação Zumbi? Impedir que a Banda fizesse sucesso nas rádios, apesar de shows lotados, festivais e até programas de TV?
Quando Chico Science & Nação Zumbi lançaram da lama ao caos, até certo ponto, foram calados pelo Brasil afora. Pois o sucesso que estourava nos palcos e nos circuitos universitários, não repercutia nas rádios como esperado.
A resposta para isso é cristalina, os caras resgataram um novo manifesto em defesa dos miseráveis e oprimidos, agora urbanos, favelados e moradores de alagados do Recife e do Brasil.
Negros, pobres, marginalizados que moravam em palafitas, em meio aos manguezais e em territórios de caranguejos. A cultura negra estava lá, a pobreza extrema e o caos estavam lá, juntamente com o maracatu, samba, umbanda, candomblé, kimbanda, capoeira e outros ritmos.
Essa é a explicação, os caras começaram a fazer música boa, experimental e de protesto. Os caras queriam mudar o mundo a partir da cultura musical libertária, como fazia o Rock Punk, o Happy, o Funk e a MPB de cunho social. O próprio mundo estava em ebulição total: Globalização, neoliberalismo e desintegração do Leste europeu. O global engolia o local sem piedade e tudo virava mercado.com.
No Brasil a extrema pobreza e a reabertura do país para a democracia eram urgentes, mas como dizia Chico Science "haviam fronteiras nos jardins da razão".
Samba raiz e toque de maracatu em meio às guitarras distorcidas e baixos roucos, deram vazão a composições que escancaram a extrema pobreza, de Recife, como uma das piores cidades para se viver.
As metáforas eram "as parabólicas enfiadas na lama", o mundo psicodélico, violento e louco. Uma sociedade desigual de exploração em um mundo cada vez, mais ciberespaço, mais tecnológico e mais global, engolindo o local e transformando o mundo em aldeia.
Essa merda de país, dominado por uma lógica capitalista idiota, conseguiu propositalmente enterrar o espírito profundo da música brasileira em suas raízes rejuvenecidas. Aqui a composição principal Da Lama Ao Caos
Nação Zumbi:
"(...) Posso sair daqui para me organizar
Posso sair daqui para desorganizar
Posso sair daqui para me organizar
Posso sair daqui para desorganizar
Da lama ao caos, do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana
Da lama ao caos, do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana
O sol queimou, queimou a lama do rio
Eu ví um chié andando devagar
E um aratu pra lá e pra cá
E um caranguejo andando pro sul
Saiu do mangue, virou gabiru
Ô Josué, eu nunca vi tamanha desgraça
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça
Peguei um balaio, fui na feira roubar tomate e cebola
Ia passando uma véia, pegou a minha cenoura
"Aí minha véia, deixa a cenoura aqui
Com a barriga vazia não consigo dormir"
E com o bucho mais cheio comecei a pensar
Que eu me organizando posso desorganizar
Que eu desorganizando posso me organizar
Que eu me organizando posso desorganizar
Da lama ao caos, do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana
Da lama ao caos, do caos à lama
Um homem roubado nunca se engana (repete).
Os impactos de Chico Science & Nação Zumbi, por mais que tentem apagar, nunca conseguir, pois esses caras são foda. Mesmo que o Chico tenha desaparecido para sempre, depois desses caras a música brasileira nunca mais será a mesma.
Precisamos resgatar esses caras, essa banda, seus festivais, suas músicas e a ciência política, sociologia, antropologia, filosofia, geografia, história, precisam explorar a obra musical da Nação Zumbi.
O cenário musical dos anos de 1990, ainda não tinha internet como conhecemos, as tecnologias digitais ainda não eram essa realidade de agora. Mas já estavam plugados no mundo dos festivais e voltados para um olhar digital.
Por mais que gravadoras como a Sony tivessem gravado ou tentado capturar o som dos caras, os shows ao vivo não se comparavam com o que foi gravado, pois a capacidade sonora dos caras estava além das tecnologias da época.
A originalidade da música de Chico Science & Nação Zumbi é um porrada na hipocrisia, um murro no pé do estômago de muita gente idiota. São muitos trabalhos em discografia, muita produção musical e cultural que insistiram em calar, como tentaram calar Chico Buarque, Chico César, Lenine, Zeca Baleiro, Caetano e Gil, entre tantos outros.
Nação Zumbi, resgatou o nome da maior liderança negra da história do Brasil, manifestava apoio aos líderes revolucionários, como Zapata no México e uma banda gravada pela Sony do Brasil e Sony internacional, nos Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Holanda, reproduziram Nação Zumbi para o mundo.
Mas infelizmente, as vendas de discos no Brasil foram fracas e suas músicas não tocavam em rádios do país. Como se tivesse ocorrido um boicote deliberado, mesmo que a Sony estivesse bancando a banda para o mercado.
Enquanto bandas sertanejas e até outras bandas como Raça Negra e Skank vendiam milhões e milhões de cópias, Nação Zumbi, vendia alguns milhares de cópias e eram completamente abafadas nos programas de rádio da época.
Se em 1993 a Sony produziu, Chico Science & Nação Zumbi em um estúdio profissional para gravar o disco "Da lama ao caos" foi porque os caras já estavam na estrada e na cena musical, como promessas lucrativas. Mas parece que, mesmo com o fim da ditadura e da censura, ainda existia, como ainda existe, um boicote aos artistas e bandas mais críticas da realidade social.
Do Manguebeat, nas quebradas de Recife, ao primeiro show em São Paulo e ao estúdio "Nas Nuvens", no Rio de Janeiro. A "Nação Zumbi" desafiava as regras musicais para misturar o Maracatu pernambucano, ciranda e coco, ritmos afro-brasileiros com o rock, hip hop, happy e funk, que ganhou a maior projeção internacional de uma banda brasileira que não foi tão valorizada em seu país.
Dezenas de livros, manifestos em defesa da cultura popular, participação em festivais internacionais, turnê de Shows na Europa e Estados Unidos. Centenas de shows no Brasil inteiro, festivais no Brasil.
Participação em vários programas nacionais de TV e mesmo assim, não eram tocados nas rádios. Essa é a lógica de um mercado golpista, assim ocorreu com todos os artistas críticas e que faziam música popular de protesto.
Mesmo boicotando e calando a música e os músicos críticos e de visão social combativa, a música como Revolução estourou e continua estourando em todos os lugares.
Fico muito puto, pois estamos ficando sem tempo para explorar essa rica revolução musical de brasileiros e em especial com os Nordestinos e com a Nação Zumbi, mesmo com a morte de Chico Science, afinal, "Quanto vale uma vida?"
NZ Vive! Viva Chico Science! Viva a NMPB!
Por Belarmino Mariano. Imagens das redes sociais.
Referências:
CALÁBRIA, Lorena. O Livro do Disco. Da lama ao caos. RJ: Editora Cobogó, 2014.
Pesquisas sobre o álbum Afrociberdelia
Uma pesquisa da UFRN analisa três canções do álbum de 1996, destacando a libertação estética e a aproximação da canção com a literatura oral.
O documentário Mangue bit, da cineasta Jura Capela reconheceu a banda no documentário Mangue bit.(2022).
O grupo era formado por Chico Science (voz), Lúcio Maia (guitarra), Dengue (baixo), Toca Ogan (percussão), Jorge du Peixe, Gilmar Bolla 8 e Gira (alfaias) e Canhoto (caixa).
Chico Science foi o líder da banda e um "cientista dos ritmos" que uniu o regional ao universal, criando uma nova sonoridade para a música brasileira. A banda denunciava os problemas enfrentados pela população pobre dos manguezais, pelos trabalhadores e pela juventude nos anos 1990.
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