Nem tudo é o que parece. Não sei como, mas lembrei de uma velha canção, "o seu amor é canibal, comeu meu coração e agora eu sou feliz".
Um provérbio canibal dizia que "Todos os seres humanos são bons". Assim como cabras, coelhos ou ovelhas. Desde que seja carne fresca ou salgada e posta ao sol para secar.
Eles também achavam bom, batatas, ervas, legumes, frutas, ovos e mel silvestre. Mas isso não era mais fácil de se encontrar.
Na antropofagia carnívora e nos rituais de caça e caçador, não importa raça, cor nem credo, todos os seres humanos são bons.
Não importa a ética, moral ou personalidade, se bem ou mal, se religioso e temente a Deus ou carnavalesco, todos os seres humanos são bons.
Não importa a ideologia, se de direita ou de esquerda, se capitalista ou comunista, todos os seres humanos são bons.
Não importa se são gordos ou magros, machos ou fêmeas, todos os seres humanos são bons.
Não importa se cozido ou assado na brasa, desde que salgado a gosto e, se tiver ervas aromáticas, e pimenta do reino, melhor ainda, pois todos os seres humanos são bons
Canibalismo antropofágico da calma, da alma e da alegria. Inscrições rupestres, símbolos ou signos arqueológicos em velhos muros de galerias e vidraças ainda intactas.
Eles chegaram com suas lanças, arcos e flechas e viramos seu jantar. Não havia saídas, pois era uma esquina em cruzamento de ferros velhos retorcidos e escombros tectônicos por todos os lados.
Ali perto, a fogueira clareava a noite, as brasas e os estalos do fogo quebravam o silêncio e as sombras se projetavam nas paredes da construção em ruínas.
Além de uma boa caçada humana, alguns veados campeiros pendurados em forquilhas e presos em cordas velhas escorriam o sangue em vasilha de plástico e era bebido ainda quente.
Penso sempre nesse sonho assustador, cheguei a gritar de tanto medo, pois já haviam corpos estendidos sobre a rocha fria das ruínas de um velho edifício.
Estava preso a cordas de fibras de náilon, enquanto esses caçadores canibais fumavam uma erva estranha, me observavam assustado, com os olhos esbugalhados e várias escoriações pelo corpo.
Outros cocorados observavam os rumores e movimentos da noite, enquanto olhavam para a escuridão e viam estrelas brilhantes no céu em trevas.
Eles comem carne humana? Aquela indagação latejava em minha mente, enquanto o pânico infectou minhas carnes e entranhas com as toxinas do medo.
Não só, pois são carnívoros de outros animais já escassos e vivem entre os escombros da civilização e da barbárie. Meu Eu respondeu com os últimos fragmentos de racionalidade.
Ali, prisioneiro de minha própria espécie, esperando ser a próxima refeição, imaginava se todos os seres humanos eram realmente bons, ou se alguns teriam um sabor estranho?
Por Belarmino Mariano, imagem das redes sociais.
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