Nas primeiras horas do dia, crianças indo para a escola, trabalhadores e desempregados já estavam em movimento para os desafios do dia-a-dia. Desciam do morro e mergulhavam nas artérias urbanas para o mundo do trabalho, enquanto ônibus, carros, motos, bicicletas e transeúntes iniciavam as detalhadas teias daquele mundo barulhento e frio.
Foi um impacto mortal, a moto ficou despedaçada e seu corpo completamente desfalecido e quebrado ficou amontoado em carne, ossos e sangue, expostos entre os buracos do asfalto e as últimas palpitações da vida.
O motorista que provocou a coalizão se evadiu rápidamente do local. Um automóvel preto da marca Jeep com vidros fumê sem a possibilidade de identificação da placa.
Em pouco tempo, as pessoas se amontoam e se acotovelam em um circuito, cobrindo o raio de distância entre os restos de corpo e motocicleta preta de 250 cilindradas.
Um homem branco de meia idade e estatura mediana se aproximou e se acocorou diante do corpo abatido. Deu um leve toque com as costas da mão no pescoço do acidentado, buscando um pulso de vida, depois desceu a mão até o pulso da mão esquerda e constatou que a vida daquele corpo já havia se esvaído.
Enquanto os curiosos se detinham ao cenário de morte, com carne e sangue espalhados no asfalto, em um derrape de velocidade e sutileza, o oportunista furtou a aliança do morto de maneira quase imperceptível.
Lentamente se levantou e se afastou do corpo como se fosse um especialista clínico de necropsia. Só percebi quando olhei para as mãos do morto e a aliança não estava mais em seu dedo.
Belarmino Mariano. Imagem do autor.
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