quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Fotografia

Por Belarmino Mariano. 
Eram duas mulheres magras e de meia idade sentadas em um banco da praça enquanto tabulavam conversas incidentais.
As peles maltratadas pelo sol de cada dia, revelam uma cor morena casca de canela da Índia. As vestimentas e endereços de uma delas, parecia sair de um filme de ficção popular. Um vestido brilhoso de seda sintética vermelho tomara que caia. Bonito e desproporcional para as dez horas da manhã. 
Na cabeça um chapéu de massa, redondo e de abas curtas, daqueles que lembram as mulheres camponesas peruanas ou bolivianas que vivem na Cordilheira dos Andes. O chapéu tinha um pequeno adereço de ramagens de flores artificiais, os brincos eram grandes e escorridos como as ramagens e em seus lábios, um batom vermelho ameixa madura, que combinava com exagero do vestido.
As sandálias rasteirinhas eram desproporcionais ao modelo tomara que caia. Mas não destoava tanto, pois puxava para um vinho avermelhado e em uma perna cruzada sobre a outra, realçaram a cor viva.
A outra mulher, também arrumada, contrastava com seu bege básico, apesar de também ter um corte com alças suaves sobre os ombros magros, também maquiada com tons do mesmo batom e blanche rosa escuro, enquanto tragava um cigarro de filtro apenas estético.
Quem eram elas, nunca tinha visto ou notado seus corpos e estilos? O que conversavam, parecia um pouco sobre amarguras, sobre sofrimentos e desamores.
Passei pela primeira vez e fui cordial com um bom dia, retribuído por ambas, enquanto também me observavam e, como eu estava caminhando, passei mais umas três ou quatro vezes, sempre tentando enquadrar melhor o ângulo daquela fotografia.
Por Belarmino Mariano. Arquivo de imagens do autor.

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