Sou de me aproximar das pessoas e de puxar conversa, mas dessa vez alguém se aproximou de mim. Era umas dez horas da manhã, estava na Praça Lima e Moura, centro de Guarabira, quando ele se apaixonou, um homem de meia idade, branco, com cerca de 1,70m e todo tatuado.
Pediu desculpas por antecipação, disse que estava limpo a uns 15 dias e me pediu uma ajuda para tomar um café. Puxei a carteira e lhe dei uma nota de 5 reais.
Ele agradeceu fazendo gestos de Namastê, o que me surpreendeu e disse que daria um bom café. Acredito que um pão na chapa e uma xícara de pingado.
Foi quando lhe perguntei sobre as tatuagens e porque estava nas ruas. Ele respondeu que havia se separado da mulher e perdera o emprego por abandono e vícios.
Sobre as tatuagens são muitas histórias. Eram muitos detalhes, signos tribais que lembram as imagens dos povos dos oceanos, polinesios, filipinos e nativos australianos.
Ele contou que perdeu o pai desde muito jovem, em um acidente de carro e começou a trabalhar cedo demais. Com parte do dinheiro ganho, fazia tatuagens e assim ficou viciado em imagens.
Sobre ter se separado me contou que havia batido na mulher por conta de drogas e bebidas. Até insistiu em voltar e novamente foi agressivo com ela, então estragou tudo de vez.
Contou que tem uma filha e perdeu a guarda, além de não poder chegar perto delas, pois o juiz estabeleceu 200 metros de distância. Vê de muito longe e sente muita falta da família.
Disse que se arrependeu, mas não tem mais o quê fazer. Nem a própria família lhe apoia e com razão. Já se internou na Fazenda do Sol, perto de Campina Grande, já passou um bom tempo sem fumar, beber ou usar crack, mas nada disso é fácil de conseguir parar.
Ele disse que já havia saído daqui, que foi em São Paulo, no Rio de Janeiro, tinha trabalhado de servente de pedreiro, pintura e oficina de carro, mas a irresponsabilidade lhe fazia perder tudo o que conseguia.
A vida dele era como a vida de uma bactéria, quando estava limpo das drogas se sentia um esgoto, um Zé Ninguém e quando fazia uso de ilícitos, mergulhava em uma galáxia com gigantescos e pirotécnicos fluxos rodopiantes de luz.
Entendi porque era tão difícil, pois em meio aos fluxos de escuridão, sempre estamos em busca da luz, mesmo que seja apenas uma miragem que depende de estímulos.
Aí é onde mora o perigo, pois não estamos preparados para o que a vida nos reserva. Então, nos despedimos com um aperto de mãos e ele seguiu na direção da Panificadora Guarabirense, entrou e me certifiquei que estava querendo alimentar o corpo.
*Por Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais.
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