A Morte de Ivan Ilitch, novela do autor russo Liev Tolstói, é uma obra que explora a vida e a morte de um homem comum, Ivan Ilitch Golovin, um juiz de instrução na sociedade russa do século XIX. Tolstói utiliza essa narrativa para abordar temas universais e profundos, envolvendo a condição humana, a busca por significado na vida, o medo da morte e, em última instância, a crítica à superficialidade da sociedade.
1. A Estrutura da Obra
A novela é dividida em doze capítulos que traça a vida de Ivan Ilitch desde suas ascensões profissionais até sua morte. A obra começa com a notícia da morte de Ivan, que é recebida por seus colegas com certa indiferença, estabelecendo imediatamente um contraste entre a natureza trivial da vida cotidiana e a profundidade da experiência humana com a morte.
2. O Protagonista e a Busca pelo Sentido da Vida
Ivan Ilitch é um personagem que em muitos aspectos representa o homem moderno que se conforma com as convenções sociais. Ele é descrito como alguém que vive sua vida apenas para cumprir os padrões da sociedade, buscando status e aprovação social acima de tudo. Sua vida reflete a rotina comum, onde a busca por sucesso profissional e conforto material se traduz em uma existência vazia e sem significado.
Conforme Ivan enfrenta a dor de sua doença terminal, ele começa a questionar a validade de sua vida. Essa reavaliação leva-o a ter uma compreensão mais profunda de si mesmo e do que realmente importa. O sofrimento físico que ele experimenta revela o sofrimento existencial acumulado ao longo dos anos, resultando em um choque que o força a confrontar suas escolhas e a busca pelo sentido da vida.
3. A Morte e a Conscientização
A morte, tema central da obra, é apresentada não como um fenômeno isolado, mas como parte inevitável da vida. Ivan inicialmente tenta evitar a realidade de sua mortalidade, mas, à medida que sua condição se agrava, ele é confrontado com a dor e o desespero que vêm com a aceitação de sua própria mortalidade.
Durante sua jornada, ele observa a indiferença daqueles ao seu redor, especialmente da família e dos amigos, que parecem mais preocupados com as aparências e o impacto social da sua morte do que com seu bem-estar. Essa percepção traz à tona a solidão do ser humano diante da morte, reforçando a ideia de que a maioria das pessoas vive uma vida superficial e alienada, evitando confrontar os assuntos verdadeiros da existência.
4. A Revelação e a Redenção
Em seus momentos finais, após uma profunda angústia emocional, Ivan Ilitch alcança uma epifania. Ele se dá conta de que a verdadeira vida é aquela que foi vivida com autenticidade e amor, não baseada em convenções ou expectativas sociais. Sua experiência de sofrimento o conduz a uma nova compreensão sobre a compaixão, a solidariedade e o amor.
É quando Ivan se entrega à sua condição e libera os medos que ele começa a encontrar paz. Sua aceitação da morte não é só uma rendição, mas uma libertação da dor e da alienação que sentiu ao longo de sua vida. O momento em que ele finalmente aceita a sua mortalidade e se abre para os sentimentos de amor e perdão se torna a chave para sua redenção.
5. Crítica Social e Reflexão Filosófica
Tolstói utiliza a figura de Ivan Ilitch e sua trajetória para tecer uma crítica contundente à sociedade e à hipocrisia das relações sociais. A apatia da sociedade em face da morte e o apego aos valores materiais e superficiais são expostos de forma incisiva.
A obra convida a uma reflexão filosófica sobre a maneira como as pessoas vivem suas vidas. Tolstói parece perguntar: o que realmente importa? A busca por status e reconhecimento vale o custo de uma vida vazia? Ele sugere que a autenticidade e a conexão genuína com os outros são essenciais para uma vida significativa.
A Morte de Ivan Ilitch é uma obra profunda que transcende a mera narrativa de uma vida e morte. Através do retrato de um homem comum, Tolstói provoca reflexões sobre a impermanência da vida, o medo da morte e a busca por significado. Ele convida os leitores a examinarem suas próprias vidas, suas relações e a autenticidade de suas escolhas, reafirmando a ideia de que, em última análise, é a qualidade das experiências e o amor ao próximo que trazem sentido à existência. A obra é uma meditação poderosa sobre a condição humana, ecoando em tempos e culturas, à medida que continua sendo relevante para as questões existenciais que todos enfrentamos. Esta obra tem uma forte relação com o pensamento estoico sobre a morte. Uma reflexão profunda sobre o verdadeiro significado da vida.
*Irani Medeiros - imagem do autor. Livro público originalmente em russo (1886). Disponível em pdf, e-book e papel. Valor médio 20 reais.
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