Nunca é muito tempo e, particularmente, nunca acreditei muito na existência do tempo. Acho até paradoxal e estranho que a mente e a experiência humanas insistam em sistemas e cálculos, em que o tempo seja incluso como se fosse uma realidade inquestionável.
Prefiro dizer que a morte faz muito mais sentido, o paradoxal experimento mental sobre o "Gato de Schrödinger" e a ideia de estarmos em dois lugares ao mesmo tempo é percebida em sonhos ou projeções mentais.
Ontem a morte bateu em minha porta por pelo menos umas seis vezes, mas não fui abrir pois estava dormindo pesado. Como em uma "desventura em série", sonhei com seis rituais fúnebres e o último foi o mais assustador.
Todos os funerais eram de ex-alunos. Jovens que haviam morrido, mas não sabia o quando, onde e nem as causas. Apenas chegava ao local desconhecido e as pessoas estavam entristecidas e chorosas, uma sobre os ombros das outras, cabisbaixas e cultuando aquela despedida triste.
Observei que apenas chegava ao local e cumprimentava alguns conhecidos, apenas com olhares e gestos. Não havia grandes alaridos ou comoções, apenas uma resignação amortecida pela dor dos parentes.
Foi assim, caso a caso e em cada lugar que chegava, observava aquela cena de tristeza e dor inexplicáveis. O que estava acontecendo? Por quais motivos estava visitando mortos e nem via seus rostos, mas apenas sabia que eram ex-alunos em meio a pessoas conhecidas e desconhecidas.
Porque um sonho dentro de outro sonho, como numa cápsula de "Matrioska" (bonecas russas)? Não sabia e explicar até que, me dei conta que ninguém falava ou conversa. Eram situações apenas de gestos e olhares, enigmas inexplicáveis de uma tardezinha em crepúsculo. Até parecia um ritual atemporal, pois me encontra va em um cenário nublado, de baixa luminosidade, como o entardecer.
Até que cheguei no campus III, da UEPB e no pátio estava ocorrendo mais um velório. Lembro de estar com uma espécie de bagagem, com matulão e umas duas sacolas. Encostei minhas coisas em um canto de parede e me aproximei do caixão. Vários rostos conhecidos, professores, estudantes e técnicos. Uma tristeza avassaladora tomava conta daquele ambiente fúnebre.
O silêncio era insurdecedor, as pessoas não estavam chorando, mas as fisionomias eram de profunda tristeza. Apesar de não saber quem era o morto, me preparei para dizer algumas palavras e até senti a construção das frases de uma vã filosofia sobre o vai e vem da vida, mas claramente não saía nenhum som da minha boca.
Cheguei a pensar que fosse eu, quem estava morto em meu próprio funeral e, por isso, ninguém me ouvia ou via. Nesse momento, minha voz deu uma embargada e quiz chorar, mas acordei assustado, como se estivesse ouvido, batidas da morte em minha porta.
Por Belarmino Mariano.
Imagem - "Gato de Schrödinger" - Olhar Digital.
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