Por Belarmino Mariano.
Estas são algumas poucas impressões sobre um simples e insignificante ponto, um ponto que pode ser final, não vindo mais nada depois. Um ponto como um olhar despretensioso e apenas enquanto ideia de pontuarmos o exercício de escritos do cotidiano.
De acordo com o Instituto Vizibelli, "o nervo óptico, composto por um conglomerado de fibras nervosas que nascem na retina, é responsável por conectar o globo ocular e o sistema nervoso central. Ele capta as informações através dos cones e bastonetes presentes na retina, que são estimulados pela luz projetada em objetos. Essas imagens que se projetam dentro do nosso olho são invertidas – estão de cabeça para baixo. É o nosso cérebro que faz a inversão da imagem, colocando-a na posição real."
De acordo com o cantor e compositor Pernambucano Lenine "Dois olhos negros e a curiosidade de saber quem é você". Dois olhos e o terceiro olho para mediar nossos pontos de vistas. Pois se na realidade vemos tudo de cabeça para baixo e um mecanismo neurológico da retina ocular inverte nossa visão no Interior do cérebro, qual é de fato o nosso ponto de vista?
Lenine só se tornou Lenine a partir do ponto de vista do seu pai, que era do Partido Comunista Brasileiro e quiz o homenagear o líder soviético Wlademir Lenin. Poderia ser Geraldo, Antônio ou José, "mirando no porto, miragem de um olhar para o mar bravio, de quem não sabe o que vai achar".
Aqui a brincadeira é pensar o quanto o ponto de vista pode influenciar nas nossas vidas. Pois com diz Kafka, "só um ponto fixo, a nossa própria insuficiência, é daí que precisamos partir."
Uma mulher pode ir a loucura ao encontrar seu ponto G, enquanto um homem pode perder a cabeça na hora H, precisando apelar para um ponto azul, tentando esconder seu ponto fraco. Mas nem tudo é sobre sexo, às vezes a coisa é mais complexa que um QR Cod no mercado de cripto moedas.
Se Lenine em uma grande angular, acha que "na cabeça do homem existe um porão, onde mora o instinto e a repressão, o que tem no solton?" São pontos de vista, entre razão, lembrança e esquecimento. Ele ainda lembra do domador de falcões que usa o "capuz negro que cega o falcão selvagem".
Imagino o ponto de vista de um velho armênio cego, na porta da igreja medieval a mendigar moedas de um mundo dominado pelos turcos. Nesse cenário o mar negro afunda navios ao seu ponto mais profundo e escuro.
Às vezes o ponto central de uma questão se encontra no olho de Hórus que foi enterrado pelas areias finas do Saara ou na nota de um dólar norte-americano, tentando escapar das garras do grande tigre asiático e suas tecnologias de inteligência artificial.
Quando Pedro Osmar diz que "foi você a pessoa que deu um nó cego no meu peito", ele se refe ao seu peito e o ponto central é o nó cego e não é de vista, mas da força de um apaixonado. É como a miragem de Lenine, miragem em um navio lá no mar bravio e, se é bravio, não será o ponto meme do centro do pacífico.
É a mesma ideia da ponte, de "como é que faz pra sair da ilha, pela ponte, pela ponte." Ele aponta para a ilha, para Lenine "a ponte não é de concreto, a ponte não é de cimento, a ponte é até onde vai a força do meu pensamento."
Mas nem tudo é sobre pontos de vistas, miragens, ilhas e mares bravios, às vezes, estamos escrevendo sobre o ponto final, e seus parceiros de pontuação e das regras gramaticais da língua escrita ou falada. Nesses casos, parece que o ponto é um carinha perigoso, apesar de pôr o fim nas questões, querelas e desacordos, ainda se entromete em todas as outras pontuações. A vírgula nada mais é do um ponto com um pequeno rabo e por isso, não é final.
Noutros momentos o ponto resolve se intrometer no meio do texto e acima da vírgula (;), saí dividindo as orações e ordenando sentindos de pausas prolongadas e coordenadas. Não existem regras, artigos e leis sem o ponto e a vírgula coladinhos.
Coitada da interrogação, precisa de um ponto de apoio para não cair em sua própria curvatura e, no máximo, interroga, questiona (?) e inquire, mas é o ponto quem dá o toque final à oração mesmo que seja uma pergunta (?).
Se a gente quiser juntar um monte de coisas em um texto, o ponto se mete em tudo, no começo, no meio e principalmente ao final da conversa. O ponto se acha, no meio da frase, resolve dividir, ordenar ou enumerar coisas, então se transforma em dois pontos (:). Nesse condição de dois pontos o cara entra na matemática e sai dividindo tudo.
O ponto final é abusado e, quer ver confusão, ou mau humor, quer ver explosão de alegria, então, o ponto pega um porrete e vira exclamação (!). As vezes é pura alegria e êxtase! Outras vezes é porrada mesmo!
Vendo a exclamação agindo, em se tratando de pontos, parece que existe uma grupo perigoso, alguma facção muito bem articulada, interferindo diretamente em todo e qualquer tipo de experiência escrita e, as pontuações tem o ponto final como líder e vamos colocar todos os pontos nos (i)s, quando ele não pretende terminar a conversa se junta com mais dois e se transforma em reticências (...). Não tem essa de despedida e ponto final, quando esses carinhas se juntam. Pode até colocalos entre paréntesis e só um simples (.), toma o lugar do (x) e se transforma em multiplicação.
Todo final precisa de um ponto, mas esse não é o meu ponto de vista. Pode até ser o seu. Às vezes a gente pode até pensar em não insistir naquele ponto, naquela questão, mas alguém insistente, sempre volta aquele ponto, aquela máxima, até que alguém se irrita e grita: Acabou! Chega! Não dá mais! Stop! Lá ele!
Apesar de não ser um ponto final no sentido da expressão da fala, é uma derivação, pois o ponto de exclamação é um ponto com porrete literalmente na cabeça e, por incrível que pareça também vem sempre ao final de uma frase ou fala, em que o sujeito afirma com veemência que, se a gente não encerrar o assunto, o ponto de exclamação entra na história com humor ou aborrecimento exagerado!
Sê tá louco!? Você perdeu o juízo!? Sempre imaginei o ponto de exclamação como um sujeito bipolar, ora excitado, agitado e feliz, ora irritado, puto e pronto para lançar uma porrada no pé das olheiras de alguém.
Desculpem a insistência, mas sempre vi a exclamação como um ponto, literalmente com um porrete e se estiver com uma interrogação ao lado, saia de perto, disfarce e pule fora, dê três pulinhos (...), pois esses pontos unidos são boca de confusão!?!?!
Os pontos estão em todos os lugares, coisas e textos desde um minúsculo buraco na blusa de dormir, a um infima pedrinha na areia da praia, até o mais gigantesco olho cego de um buraco negro. Dependendo da escala e da grandeza, a terra é um ponto, ao lada da lua e de todos os demais planetas e satélites. O sol é um ponto brilhante, assim como os bilhões, trilhões ou quatrilhões de estrelas que ponteam o universo.
No mundo da física e da química o átomo é um ponto infinitesimalmente pequeno e nele ainda tem pontos infinitamente menores como: núcleo, prótons, nêutrons, neutrinos e outroas particulas subatómicas.
Quando o médico diz que a cirurgia ficou perfeita, alertando para um corte no ponto certo, retirada daquele ponto infeccioso e para os 21 pontos de costura dos tecidos do paciente, estamos diante de uma cirurgia exitosa em todos os pontos da previsão médica.
Nas agulhas do acupunturista, ponto a ponto ele vai encontrar os pontos de dor e tensão. Naqueles pontos estratégicos ele vai lançando as pontas das agulhas e traça uma cartografia de pontos de tratamento. Como é relaxante uma sessão de acupuntura. Em diferentes pontos do corpo, pequenas furadas de agulhas e você sai novinho em folha.
Aqueles pontos de dor, de tensão e até mesmo pontos de emoção, aquela milagrosa medicina chinesa consegue chegar. O ponto não é de vista, pois ninguém vai enfiar uma agulha no olho de ninguém, mas fiz uma sessão de acupuntura no rosto e na cabeça. Que experiência incrível! Saí dali com outro ponto de vista sobre os reais efeitos terapêuticos da acupuntura chinesa.
Mas quando estamos falando de saúde, medicina ou doenças, essa coisa de pontos, envolvem muitos procedimentos e diagnósticos, pois quando a adolescente aparece no dermatologista cheia de pontos na cara, surgem as preocupações com as acnes e de repente, aqueles pontinhos podem ser o final da beleza e sua vaidade entra em desespero.
Um turbilhão de pensamentos sobre aquela tragédia e quando aquele ponto espinhal inflama, vira uma mancha vermelha, um ponto esverdeado. Dependendo da quantidade de pontos e do grau de sensibilidade da pele, aquele rosto lindo se transforma em uma cadeia de pontos, prontos para eclodir, igualmente a vulcões entrando em erupção.
O que era saúde, estética ou trauma psicológico juvenil, a depender do ponto de vista, já se transforma em geografia, então a gente começa a descobrir que na geografia, um ponto pode representar uma marca, uma referência, uma localização. Então as crianças começam logo a aprender a como se localizar no espaço. Surgem expressões como: os pontos cardias, colaterais e sub-colaterais.
Então cada ponto cardeal aponta para um ponto do céu e começamos a entender que no ponto onde o sol nasce sempre fica o Leste, no ponto oposto o Oeste. Aí a professora, calmamente, escolhe a estudante Hannah como ponto de referência e pede para ela ficar em pé.
Os pontos de orientação são bem simples, Hannah estira o braço direito para o ponto do nascer do sol e o braço esquerdo para o ponto onde o sol se põe. Então temos o leste e o oeste. Agora a professora explica: o ponto que fica na frente de Hannah é o norte e as suas costas ficam ao ponto sul.
O ponto entre o norte e leste é nordeste; entre o leste e sul fica o sudeste; entre o sul e oeste o sudoeste e entre o oeste e norte fica o neroeste. Pontos e mais pontos ate formarnos a rosa dos ventos.
Mas na geografia, o ponto é utilizado de milhares de outras maneiras. Em um mapa, por exemplo, a legenda é recheada de pontos, são pontos de diferentes tamanhos e cores.
Os pontos podem demarcar as cidades, as capitais, as metrópoles, as megalópoles, e assim, os mapas vão se enchendo de pontinhos. Às vezes, esses pontos vão se sobrepondo, para dar uma ideia de grandeza quantitativa e representação de importância ou destaque.
Mas não é só isso, geografia da vida cotidiana, tudo é ponto e sem brincadeira, o ponto não precisa ser final, pois na geografia o que temos de pontos, estão mais para reticências. Pontos como paradas obrigatórias: Ponto de ônibus, ponto de táxi, ponto de mototaxi, ponto do metrô, ponto de trem, ponto da balça, ponto do aeroporto, ponto de chegada, ponto de partida.
Se você precisa localizar qualquer coisa, você terá um ponto de referência e nesse caso: pontos comerciais são fundamentais. Naquele ponto existe uma loja de tecidos, de calçados, farmácia, supermercado, panificadora, ótica e assim a cidade vai se enchendo de ponto, tal qual o rosto da adolescente vira um terreno de acnes.
Na arte e na matemática, os pontos são cruciais, acho até que sem eles, seria difícil entender tais assuntos. São as junções dos pontos que originam as retas e com as retas se desenha todos os tipos de formas geométricas. Geometricamente, um ponto fixo de uma função é um ponto de interseção entre a reta com o gráfico da função.
Como disse o filósofo e matemático grego Arquimedes: "Dê-me um ponto de apoio e uma alavanca, e eu moverei o mundo.” quer mais?
As mulheres rendeiras trabalham literalmente com pontos e linhas, entre eles, o ponto de cruz. Elas marcam pontos no tecido e vão fazendo furos pontuados para cozer lindos floreios. Apenas com a agulha e a linha, começam a render os pontos e nós para fazer lindas peças.
A mesma coisa fazem os pescadores de redes de arrasto. Traçam pontos em linhas de nylon e constroem suas redes de pescar. O incrível é sabermos que, naquela rede, tem os pontos cheios de nós e os pontos vazios, pois a água e o ar passam pelos pontos furados e os peixes ficam presos na malha que são os pontos da rede do pescador.
Agora imagine o que seria do dominó sem aqueles pontos pretos que indicam combinações numéricas de branco, 1, 2, 3, 4, 5, 6. Pontos que se repetem como se fossem frações de possibilidades combinadas. Mas não é só no dominó, pois em todos os jogos ou esportes os pontos estão presentes. Gols, cestas, saques convertidos, posição na natação, nos cronômetros e ponto a ponto conquistado, o atleta ou a equipe se sagra campeão.
Querendo ou não, estamos rodeados de pontos por todos os lados, portanto, pontos são significativos em tudo o que fazemos e até deixamos de fazer. O ponto certo para o doce, o sal, a pimenta, o azedo e o amargo não podem passar do ponto e se brincar o leite derramado só derramou porque passou do ponto.
O ponto certo para a comida e a bebida, está no ponto ou passar do ponto são situações constantes em nossas existências e experiências. O casamento chegou em um ponto que não dava mais. Ontem eu bebi tanto que passei do ponto, quero dizer, não tenho certeza, mas os amigos contaram que depois da meia noite, subi na mesa só de cueca e critei, agora é o ponto alfa da festa, que tragam os cabides!!!
Cara que louco, no teatro, no cinema, na música, na arquitetura e onde você quiser observar, irá perceber a importância do ponto na trama, na lux, na sombra, na marcação do palco, na definição das colunas, arcos e nos vazios do espaço, os pontos são fundamentais.
Os pontos de fuga naquela cena horripilantes de terror. O ponto é o X de todas as nossas questões mais cruciais, como a vida e a morte, então, muitos acreditam no ponto de partida e no ponto de chegada, mas ninguém sabe onde esse ponto começa e se realmente é o ponto final.
Acho que vou parar por aqui, dar um ponto final a essa prosa, pois nem sei a que ponto poderia chegar, então estou preferindo deixar alguns pontos de fora dessa conversa, só para não criar nem um ponto de confusão. Nem quero tocar em pontos políticos ou pontos polêmicos sobre religião, sexo dorgas ou rock in rool. Esses pontos vou deixar para vocês.
Por Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais.