As causas reais não cabem sorte nem azar, mesmo que tudo se repita em padrões de incertezas e acasos.
Abismo e pânico para o azar, como coisa de gato preto atropelado pelo carro em meio ao céu aberto da avenida agitada. Morte ou vida por um triz, pois o gato tem sete vidas e vez ou outra, o bicho consegue escapar.
Sorte é um golpe de picareta na testa de uma estrutura de concreto armado, rasgado pela força dos braços embrutecidos pelo trabalho da destruição programada.
Sorte tua operário, proletariado empobrecido pela exploração do teu patrão. Salário de sorte que o Grande Arquiteto do Universo te deu para o azar dos desempregados e famintos do mundo.
A minha sorte é toda a tua sorte, em nossa melhor vantagem, de não dar sopa ao azar. Festejar o quê? Sei lá, talvez a sorte de não ser azarado e se encontrar pela primeira vez, justamente a noitinha, em pleno sábado de carnaval.
Morte e vida ao acaso, quase tudo em uma peninha de nada. Caso de um passarinho que ficou depenado, ao cair na boca da jararaca. Te vi de baixo, você não voava tão alto e pousou pertinho do meu bote, ambiente empoeirado e de baixa claridade.
Que sorte a minha, de sambar em plena avenida, te olhar pertinho, te vendo sambar e eu aqui pensando, que azar em nen saber quem és, até que você olhou pra mim. Aquele olhar de alegria multicolorida e pensei na ligeireza do bote.
Sorte em te encontrar em pleno carnaval, toda fantasiada, alucinada de alegria. Azar de não beijar a tua boca de frutas vermelhas e urucum, te perderia do meu raio de sorte.
Azar de curta duração, pois criei coragem e agarrei a tua mão, em meu alucinado coração que já não era mais meu e sim teu, de tua boca e do teu cheiro de carnaval.
Como amante da lua cheia, fui me derretendo em teu olhar, teu sorriso de feiticeira em uma trama do destino, rasgou meu coração de alegria.
Então corremos de alegria no meio da multidão, brinquedo de doidos desvairados, em rodopios e beijos de cobras que se mordem em amar enlouquecido.
Que sorte em te beijar e me lambuzar em teu corpo suado de alegria e brilho da maquiagem. Nem sei, mas acho que foi um encontro ao acaso, aconteceu assim.
Mas você partiu, foi embora, como nas asas de um beija-flor e, nem sei qual é a sua bolha, de qual constelação você surgiu. Que azar o meu, que por um golpe de sorte te conheci e por azar na mesma noite te perdi.
Por Belarmino Mariano. Contos de Sábado. Imagem das rede.
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