Por Belarmino Mariano*
Nem sei se tenho esse direito audacioso de relatar esse triste ocorrido, mas o incidente aconteceu em meu jardim em uma manhã chuvosa de domingo. Logo vemos que a vida é apenas uma sequência de pulsação dos seres, assim como os pulsares são estrelas de nêutron em suas fases terminais.
Quando cheguei ao jardim, lá estava aquele frágil e pequeno corpo estendido no chão. Não houve nenhum interrogatório, mas uma reflexão surgiu em parafuso de pensamentos: Será que essa borboleta morta viu algum sentido e despertou algum sentimento em seu curto ciclo de vida? Em crônicas de um Budista Zen, surgiu um paradoxo: "vida ou morte? Ex a questão.
Não era nenhuma monarca ou morpho azul da floresta Amazônica, que depois da metamorfose e saída do casulo, chegam a viver entre três e seis meses. Não era monarca (Danaus plexippus), que vivem cerca de dez meses e migram aos milhões, voando até 4 mil quilômetros entre a América Central e México, as florestas temperadas do Canadá.
Era uma simples e bela borboleta do Agreste da Paraíba e sua expectativa média de vida era de duas semanas a um mês. Mas infelizmente, o seu curto ciclo de vida foi interrompido pelas fortes chuvas de março que estão deixando o verão terminar seus dias de calor e glória.
As chuvas que seguiram durante toda a noite de ontem, amanheceram teimosas e fortes até quase agora. A jovem borboleta, talvez desavisada e inexperiente, resolveu voar ao amanhecer e não conseguiu se livrar desse bombardeamento pluvial, sendo abatida em pleno voo matinal.
As marcas d'água estão por todo o seu frágil e pequeno corpo e asas em tons de verde, azul e amarelo. Isso denota o quanto a vida de uma borboleta é frágil e imprevisível. A incerteza e a metamorfose tomou conta desse cenário fúnebre de uma liberdade que até ontem voava livremente.
A única coisa que poderia fazer era lhe oferecer um sepultamento digno. Então, junto com as pétalas de flores de Jasmim laranja e Thumbergia erecta, que também foram derrubadas pela forte chuva, as depositei no tronco de minha pequena jaboticabeira para o descanso eterno.
Um boquete de lágrimas de Cristo, chegou até aqui, enviado pelo camarada Alexandre Moca, colhido pela sua grande angular, diretamente dos jardins do Sítio Mucunã. Para a lápide imaginária: "Aqui jaz a frágil liberdade nas asas da borboleta morta por pingos da chuva".
Por Belarmino Mariano, imagens do autor e de Alexandre Moca.
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