quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

A Velha História de Maconheiro - Preso por causa de uma seda de cigarro

Por Belarmino Mariano.

Aos 60 anos, começo a rememorar histórias engraçadas de minha juventude. Confesso que não sou maconheiro e nunca fumei os cigarros caretas. Em minha juventude era difícil não encontrar alguém que não fumasse, mas a minha experiência com cigarro veio do meu amado pai, Seu Mariano Belarmino. Painho era asmático e fumava o famoso "pé de burro", ou "fumo de rolo", como canta Sivuca e Glorinha Gadelha em "feira de mangaio".

Mas tenho um segredo que quase ninguém sabe. Meu pai para aliviar suas crises de asmas, que eram constantes, usava o fumo de rolo com flor de zabumba (Brugmansia suaveolens). Essa mistura de fumo e zabumba era uma santo remédio, pois abria os brônquios e ele conseguia dormir mais aliviado.

Quando a gente morava no Angico Torto e depois no Mocambo, terras de Itapetim/PE, nas nascentes do rio Pajeú, lembro que os cigarros do meu pai eram feitos com palha da espiga de milho. Ele escolhia as palhas mais fininhas e ficavam iguais a uma seda. Eu desconfio que essa experiência dava "um barato", pois meu pai sonhava alto, falava, cantava, aboiava e tresvariava.

Se você não sabe o que é tresvariar, é falar em línguas estranhas enquanto dorme. Lembro que depois das crises de asma, quando ele conseguia se acalmar, dormia suave e quando entrava em estado de sonho, conversava consigo mesmo, dizia coisas que a gente não entendia, mas a gente perguntava coisas pra ele e ele respondia.

Daí explicar os motivos de não ter me interessado por cigarro, numa época em que quase todo mundo fumava. Certa vez peguei uma piola do cigarro do meu pai, acendi e dei umas boas tragadas.
Pense numa tontura danada que me deu na cabeça. Confesso que aquela experiência me deixou bêbado, tonto e meio desatinado. Não quis mais provar fumo e me dava até embrulho no estômago.

Quando me tornei jovem, conheci uma moreninha chamada Rosa. Era linda e tinha lábios de mel, tal qual a Iracema do Zé de Alencar e, para completar, usava aquele sabonete Palmolive que cheirava a canela. Sabe aquela história de amor à primeira vista?

Confesso que rolou uma química, a gente começou a namorar, mas tinha um porém, nos lábios e no brilho dos olhos castanhos da danada da Rosa fez por outra rolava a fumaça de careta. Não tive dúvidas, não iria perder aquela moreninha por causa de cigarro. Comprei uma carteira de um cigarro fininho e com a seda cor de charuto da marca Charme. Um estilo de fumo suave e voltado para o público feminino. A ideia era dividir com Rosa e fazer um charme para a garota da vez.

Moral da história, depois de uns três cigarros fumados, vi que não tinha estômago para coisa. Ainda namorei um bom tempo com Rosa, mas os caminhos da vida nos separou. Depois disso, entre o trabalho, os estudos e as militâncias políticas e culturais, cheguei a universidade. Na visão ignorante de muitos, a universidade é um verdadeiro antro de maconheiros, veados e sapatões (expressões preconceituosas da época).

Nos anos de 1980 e 1990, entre universidade e política de esquerda, tinha muito rock nacional como Legião Urbana, Titãs e outros. Essa história de maconheiros, acho que era meio exclusivo de jovens das elites, pois na margem periférica a gente se dividia entre o estudo, o trabalho e as festas (assustado), com batida de maracujá, limão e tira gosto de azeitona, queijo e mortadela, pois maconha era um produto caro e difícil.

Eu tinha um cabelo grande e cara de maconheiro, assim como um monte de outros amigos e amigas que em nossa juventude, tínhamos esse estilo marginal de roqueiros. A gente andava com uma mochilas de couro ou de crochê em linha de algodão cru. Numa dessas, estávamos no famoso "Bar da Tapa" no bairro do Castelo Branco, ao lado da UFPB, para relembrar o velho amigo Beto Quirino
Do nada como farejando algo, chegou um grupo de três policiais em nossa mesa.

Nesse sacolejo eu fui a bola da vez. Eles me pediram para retirar os pertences da mochila. Meio nervoso fui tirando as coisas (um bloco de notas, um pacote de absorvente de minha namorada, um livro sobre escritos anarquistas e mais algumas bugigangas de universitário). Eles não encontraram a marijuana esperada e saíram meio frustrados do recinto. Um amigo num canto da mesa, cagado de medo disse, ainda bem que tu tem cara de maconheiro, pois se fosse eu, teria sido preso por causa de um pacote de seda para fumo de Arapiraca.

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Por Belarmino Mariano. Imagens pessoais e das redes sociais.

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