segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Lugar Nenhum em Fragmentos de Sonho.

Por Belarmino Mariano*

Nem sei como começar, mas notei que era uma mala velha e surrada pela poeira e viagens distantes. Era uma mala de séculos, feita com finos fios de madeira e encapada de couro de gado em completa rusticidade artesanal.

Que lugar era aquele, marcado pela escuridão de uma casa antiga? Uma história mal contada e não fazia sentido para os dias de hoje, pois não encontrava ecos do presente.

O véu do tempo me fez viajar por um mundo distante e tenebroso. Não cheguei a abrir a mala, pois fui arrebatado por uma onda de choque, jogado contra as paredes e no fogareiro acesso, uma adaga sobre um balcão de taberna, indicava sangue, uma batalha e corpos estendidos pelo chão.

Naquele mesmo momento, sinais de colera e sentimentos de pânico me tomaram as entranhas do corpo. Quando saí daquele ambiente fúnebre, ainda era escuridão total e tinha consciência de que havia chegado ao lugar errado e em hora errada também, pois ninguém mais, em viva alma, estava lá.

A questão era, como fui parar ali, como cheguei naquele lugar e porque em uma casa escura, fria, tenebrosa e com cheiro de sangue no ar? Consegui me desgarrar dos medos e sai pela porta entreaberta que dava acesso a rua.

Lá fora não era diferente, a sensação de perdas, aquele momento era único e estava vivendo pela primeira e última vez. Não havia referência a lugar nenhum e perdi a noção de tempo espaço.

Enquanto perambulava pela rua deserta e escura, cruzei uma ponte de madeira e pedras, naquele instante notei que estava me afastando do povoado urbano, até que notei um branco neve pelos arboredos e percebi que eram reflexos da luz vinda da Lua.

Andei mais depressa que o normal e aquele clarão distante me despertou do pesadelo insuportável. Acordei atordoado e o pior do sonho foi acordar sem nenhuma referência de tempo espaço, mas apenas a certeza de que era eu que estava ali.

Como se ao acordar, tivesse deixado para trás uma mala velha cheia de coisas que não sei o que eram. Acordei com um sentimento de perdas na memória, um gosto de ferrugem na boca e o peso de uma viagem astral inconsciente.

Por Belarmino Mariano. Fotografia de Luisa Mariano .

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