terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Prometeu Acorrentado

Por Belarmino Mariano 
Acho que existem duas questões em jogo, a primeira é relacionada aos elementos apalavrados e a outra diz respeito ao uso das palavras, pois a palavra é possuidora de muitas forças forjadas nos recônditos de nossa mente, elas expressam pensamentos, expressam sentimentos e, expressam vontades. Este trivium é minha maneira de viver e ver o mundo do qual sou participante.

Todas as palavras são de um potencial sacro fantástico. Elas são imantadas de significados e interesses tão divinos que podem ser encontradas no mitológico mundo de Hesíodo em “os trabalhos e os dias” e esclareço a escolha deste filosofo grego, pois nele encontramos o mito de “Prometeu e Pandora” que começa dizendo: “oculto retêm os deuses o vital para os homens; senão comodamente em um só dia trabalharias para teres por um ano, podendo em ócio ficar; acima da fumaça logo o leme alojarias; trabalhos de bois e incansáveis mulas se perderiam” (HESÍODO, 2006, p.23).

A escolha do fragmento de idéias gregas, tão primitivas e civilizadas encosta nos nossos dias de trabalho e de ócio. Temos muitas alegorias como: a “Caixa de Pandora”, enviada por “Júpiter” para castigar todos os homens mortais de um lugar. Percebam que ainda não estou querendo chegar à idéia instituída como Caos, nem a perspectiva de Nix ou de Eire. Figuras “erradas” e “iradas” que vivem surfando nas ondas olímpicas de nossa tradição filosófica e mitológica. Até porque, gosto por demais do Caos, da Noite e da Discórdia, pois é da deusa da Discórdia que nos alimentamos com os trabalhos e os dias.

Gosto da ideia de ser uma pessoa mortal e de ver meus dias consumidos pela vida, pela imprevisibilidade, assim me sinto tão divino quanto às crianças que brincam despreocupadas do amanhã, mas sei das minhas correntes e assumo a "condição prometeica” de ter que trabalhar os dias, de planejar meus sonhos e de fazer acontecer.

Nesse sentido, todos os argumentos e sentimentos de pertencimento ao lugar possuem a mais fiel validade, todos os medos e atropelos na maneira de conduções das idéias são naturalmente aceitáveis por todos, mas a engrandecida e catastrófica idéia de que tudo vai acabar não ajudam na configuração das melhores argumentações para o presente.

Claro que o cérebro, processa necessidade imediata, reação instintiva e o frio na espinha quando se é surpreendido pelo latido do cão nas pernas. Mas passado o susto, recomposto o estado da racionalidade pura, será possível dialogar com as três maiores e invisíveis forças da natureza: Cronos (o tempo), Cosmo (o espaço) Caos (aqui traduzido com a incerteza). Falo do tempo, pois ele é o grande Senhor que a todos consome. No nosso caso, o tempo urge e precisamos ter clareza disso em nossas ações, pois depois que a areia escorre pelo fino gargalo da ampulheta, pouco se tem a fazer.

Acredito que nessa relação espaço-tempo, a “Intercomunicação dos Sentidos”, Sobre a incerteza, acredito demais nela, é o corpo teórico com o qual gosto de trabalhar. Defendo inclusive que a vida é imprevisível, que “só há um ponto fixo, que é nossa insuficiência”, como afirma Kafka e, é daí que precisamos partir. Não acredito que o cérebro funcione apenas para transmitir e dividir o movimento das ondas neurais. Algo mais que motricidade e mecânica físico-química acontecem nesse órgão de seleção e ação. Meio que discordando de Bérgson citado por Meyer (2002), somos possuidores de memória pura antecedente e o que chamo de essência dos titãs que somos. Assim, justifico o tão emaranhado texto de mitos, homens, mulheres e divindades. 

Por isso, somos (i)mortais e sem culpas, nesse caso, conscientes dos papéis por nós assumidos, entre “os trabalhos e os dias”, temos um poder reconhecido enquanto “lembrança pura”, transformada em “lembrança-imagem” (MAYER, 2002, p.24), e o conhecimento que podemos utilizar servirão para como Hercules, libertamos prometeu das correntes, pois sua luta foi conquistar o fogo para os humanos e por tal façanha foi acorrentado.
O lugar como um detalhe abre espaço-tempo para o uso da inteligência coletiva (LÉVY, 2000) e para a constituição de laços sociais e relações com o saber dos quais temos profundo censo de justiça, ética e mais uma vez inteligência coletiva. 
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Por Belarmino Mariano. Imagem das redes. Link do original nos comentários.

REFERÊNCIAS

HESÍODO. Os trabalhos e os dias. (Traduz. LAFER, M. C. N.). São Paulo: Iluminuras, 2006.
LÉVY, Pierre. A Inteligência coletiva – por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
MEYER, Philippe. O olho e o cérebro – biofilosofia da percepção visual. São Paulo: Ed. Unesp, 2002.

domingo, 28 de janeiro de 2024

Universo Paralelo

Por Belarmino Mariano.
Em uma jornada profunda ao encontro da alma, mergulhei nas águas profundas do mar negro. Os sentimentos borbulhavam dentro de mim.
Me senti um animal marinho de eras geológicas distantes, adaptado às águas profundas.
Nunca senti tanto medo desse mergulho, pois nas profundezas a água era cada vez mais fria até que a luz desapareceu completamente.
Nesse momento, as profundezas do mar me arrebataram para um universo desconhecido. Uma velha embarcação despertou minhas entranhas do passado. 
No fundo do mar, naquela região da Terra, me vi pela primeira vez e ali, como em um portal circular, desapareci para sempre.
O mar Negro não é uma metáfora é um estado de mim mesmo, o outro lado da minha existência e sempre me encontro em suas margens, em seus portos, em suas praias e profundezas.
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Por Belarmino Mariano. Imagem das redes sociais.

É Sobre Nós

Por Belarmino Mariano.
Nem tudo é sobre eu ou você, nem sobre nós. É sobre a vida marcada por ritmos distintos como uma música profunda.
Somos diferentes em vários aspectos, você é metódico, organizado e exigente. Eu sou desorganizado, comum e espontâneo, não exijo muito e a minha despreocupação com a vida é um protótipo do caos.
Às vezes me perco, tenho dúvidas, raiva e frio na barriga com suas maneiras de ver o mundo.
Às vezes eu vejo o mundo como uma jornada insegura e incerta, mas me contento em querer seguir em frente. 
Você me desafia a buscar novos horizontes, me alegra com sonhos em territórios distantes, prepara as malas e vai embora sozinho.
Quais as nossas diferenças? Serão culturais, sociais ou mentais?
Às vezes somos incomuns, entramos em pânico e estado de choque. 
A vida é injusta, nem tudo é tão importante e seguro que nos deixe preenchidos de segurança. 
As loucas experiências são transitórias e entre a surdez, a loucura e a cegueira, nunca temos a escolha sobre isso.
Às vezes fechamos os olhos, tapamos os ouvidos e continuamos a escutar os ruidos as vozes distantes do mundo.
Construimos muros, barreiras e nossos pensamentos e sentimentos se chocam o tempo todo. Somos nós as nossas profundas cavernas.
Surdez silenciosa na escuridão.
Monstros mentais em forma de dragões para lutar. Estamos só querendo correr, fugir para um campo aberto para os assustadores abismos e cânions profundos. Isso tudo não é sobre nós, mas sobre nossos medos.
Por Belarmino Mariano. Imagem das redes.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Os Olhos de Cronos

Por Belarmino Mariano.

Tenho um sonho que se repete incrivelmente.
Não se trata de um sonho incrível, apenas um sonho simples e repetido.
Não sei exatamente quando comecei a sonhar, não tenho essa consciência, pois parece algo irracional, mesmo que se trate de um padrão, não tem conexões com a realidade.
Esse sonho repetido não se trata de um lugar geográfico conhecido, as pessoas com as quais convivo, são conhecidas apenas do sonho. Não existem na minha realidade e relações existenciais.
O tempo espaço é claramente antigo, mas não demarcado com clareza. O lugar é frio, montanhoso e acho que beira as regiões do mar negro. Digo isso pois já mergulhei em um mar de água escura, fria e profunda.
É um lugar de porto, de cais e de trabalho duro. Um trabalho que lembra alguma prática ilícita, algo proibido, pois existe uma sensação de missão, etapas de um trabalho braçal a mando de algum corsário ou chefe de um clã.
O sonho se repete, mas progride em uma espécie de loop infinito, em que ora avanço, ora recuo ou recomeço sem saber ai certo o que virá.
Sei que sou eu, vivo e convivo com pessoas que me são familiares, mas apenas naquele espaço tempo.
Às vezes demoro a sonhar, aí misturo aos sonhos, coisas do meu dia a dia, de familiares desse mundo e que até já morreram. Mas do nada, entro nesse outro universo ou dimensão tempo espaço que é uma espécie de lugar nenhum.
Um dia desses escrevi, indiretamente, essas sensações ou reflexões do que sonhei nas repetições desse sonho.
Se a vida é singular
Qual a verdade sobre a morte?
A vida é de fator uma realidade,
mas a ideia da imortalidade nos leva a hipótese da perpetuidade.
Existe a possibilidade de uma jornada metafísica?
O mar da morte ou mar morto, o mar negro ou mar da escuridão?
Nexos do tempo, cronos nos labirintos do infinito
Os enigmáticos viajantes do tempo, chocam o presente e o passado. E se chocam com o futuro.
A morte não é a verdade, muitos outros elementos misteriosos intrigam as nossas mentes.
Quem assombra o presente? Será que as vozes do silêncio ainda ecoam nas profundezas do nada?
Os desafios da compreensão humana, estão em sintonias finas, em ruídos estranhos e no ceticismo sobre escuras faixas do cosmo.
Por Belarmino Mariano. Imagem das redes.