Por Belarmino Mariano*
"Cai cai tajura que é tempo de gordura! Cai cai tajura que é tempo de gordura!" Essa era a gritaria no meio das ruas de terra batida e dos terrenos baldios da nossa infância nordestina.
Eu tinha uns 12 anos e nunca tinha beijado a boca de uma menina. "A brincadeira de maçã, pêra e salada mista", em que , tínhamos nossos olhos vendados, a gente escolhia as frutas e a salada mista era beijo na boca, maçã abraço e pêra beijo no rosto.
Na casa ao lado da minha, tínhamos cinco amigos, sendo três meninos e duas meninas. Nunca imaginei que no futuro uma delas seria minha namorada. Mas nessa época, Rita de Cássia, com uns 14 anos, fez um grande desafio para os garotos da rua.
Aquele que consegui comer um punhado de bunda de tanajura crua, vai ganhar um beijo na boca e de língua. Aquela garota linda, olhos negros, lábios carnudos, cabelos negros encaracolados e pele cor de canela e jeito de índia era uma deusa dos nossos sonhos adolescentes.
Quando ela disse que tava valendo, saímos feitos doido, gritando e como guerreiros Tapuias: "Cai cai tajura que é tempo de gordura! Cai cai tajura que é tempo de gordura!" Eu não contava história, era uma questão de vida ou morte e Zé de Dona Nicinha, ainda me deu uns empurrões pois era apaixonado por Ritinha.
O trabalho era simples, pegar as tanajuras, degolar as suas cabeças e asas e ir juntando as bundas das tanajuras na palma da mão. Quando noitei que a mãe já estava cheia, corri para onde as meninas estavam em grande risadeira e mostrei o punhado de bundas de tanajura para que testemunhassem minha coragem.
Naquela hora, criei coragem e coloquei cerca de dez a dose bundas na boca e comecei a mastigar tidas de uma só vez. Is meninos com suas mãos cheias, ficaram me observando, enquanto, meus dentes trituravam aqueles restos de formigas cheias de gordura.
Quando já escorria pelos cantos da boca, aquela manteiga de formiga gelatinosa, abri a boca e engoli tudo, como se tivesse participando de um ritual de masculinidade e bravura . Lambi os beiços e disse, pronto, tarefa cumprida, agora quero o meu beijo.
No mesmo instante, Rita de Cássia disse: "Ecaaaa! Eu que não vou beijar essa boca sebosa!" Ela era um pouco maior e mais forte, mas não contei história, disse que ela fez o desefio, ia ter que cumprir. No mesmo momento parti para cima dela, segurei seu rosto e lhe roubei um beijo, mesmo na boca!!!
Confusão danada, risadas e empurrões. Ela me empurrou, me deu um tapa no rosto e disse com muita raiva: "Seu fresco safado!!!"
Naquele momento, já estava me sentindo na vantagem, pois tinha lhe tacado um beijo, mas chamar um menino de fresco era o prenúncio de uma guerra. Como ela maior e mais forte, paru para um golpe baixo, até demais.
Naquela época, a gente andava no osso, feito cavalo de índio. Ainda não existiam os copos de jorbas. Então a gente andava sem cueca. Com uns calções de elástico e cordão para amarrar.
Não contei história, entre ouvir o fresco de propagando no ar, enquanto ela cuspia aquela saliva creme de bunda de tanajura, arrastei o calção para baixo e balancei o bilau para ela, dizendo: olha aqui o fresco!!!
Nessa hora, as meninas e os meninos começaram a rir descontrolados. Aquela ação gerou uma revolta e Ritinha colou as duas mãos no rosto e começou a chorar e, aos soluços saiu correndo para casa. As amigas lhe seguiram e, naquele momento entendi que havia pegado pesado.
A confusão chegou aos ouvidos de minha mãe e o cacete comeu no meu lombo. A noitinha, Zé e os outros colegas , chegaram lá em xasa e me disseram que Seu Dunda, pai de Rita, estava querendo me ver. Nessa hora pensei, agora eu me lasquei!?!?
Como já tinha feito a merda, fui lá. Ele estava na varanda e entrei calado e cabisbaixo. Os meninos ficaram no portão e na escuta. Seu Dunda era marceneiro, um homem grande e forte. Rita, sua irmã e seus irmãos estavam na porta, como testemunhas de um crime grave.
Seu Dunda disse: "Mas Belo, fiquei sabendo que você andou mostrando o pinto para Ritinha? O que aconteceu? Eu já estava lascado, então pedi desculpas e contei a minha versão da história: disse que Rita inha feito um desafio para a gente comer as bundas cruas das tanajuras e que iria dá um beijo de língua em quem começe. Aí eu comi, todos viram e ela não cumpriu a promessa. Então em beijei ela a força. Aí ela me chamou de fresco e eu perdi o controle, baixei o calção e mostrei o bilau pra ela.Foi isso que aconteceu.
Seu Dunda se dirigiu para Rita e disse, "Mas Ritinha, você não pode chamar um rapaz de fresco e nem sair por aí oferecendo beijos!". Ele disse, dessa vez vai passar, mas não quero mais saber desse tipo de comportamento! Pedi desculpas mas uma vez e saí mais desconfiado do que cachorro vira-lata e nunca mais quis saber de desafios malucos.
Uns 3 ou 4 anos depois, comecei a namorar com Sueli, sua irmã mais nova, mas foi um namoro escondido, pois fiquei morrendo de medo de Seu Dunda e dos irmãos de Ritinha, pois mesmo me dando razão, poderia ter sido da boca pra fora.
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Por Belarmino Mariano. Imagem Vaqueiro Postou nas Redes Sociais