Desde crianças eles cresceram juntos na periferia favelada de Salvador, Moinho do Tucum. Até foram para a escola, mas estudar que é bom, foi muito pouco. Íam para o colégio em busca da merenda e sempre provocavam confusão com os outros colegas .
Eram quatro moleques de rua, viviam livres e soltos, entre o Mercado Publico do bairro e a feira livre. Entre pedir e fazer pequenos furtos foram crescendo e sendo educados pela vida. Sempre que estavam em perigo, se transformavam em "Pedros Corredores" e disparavam entre becos e ruelas, que nem bala os pegavam.
Eram tão ligados, tão próximos que pareciam irmãos univitelinos. O grude deles era tão grande que o Sr. Chico do Carvão, os comparava com os "quatro elementos": Terra, Fogo, Água e Ar. Quando passavam correndo, ele falava: "Esses meninos são Terra quente!"
Eram assim, tão misturados que, fizesse chuva ou Sol, trovão e relâmpago, eles continuavam juntos e se protegiam das intempéries da vida. Eram tão unidos que o dava para um dava para todos e enfrentavam qualquer perrengue juntos.
Seus nomes de nascimento eram: Jordão, Raimundo, Eliseu e Baltazar. Mas ninguém sabia quem era quem, pois os nomes eram o que menos importava. Entre pipa, pião, bola de gude, roda de capoeira e carro de mão, foram crescendo e entrando nas guerras de meninos de rua. Eles eram os da rua de cima, pois moravam no ponto culminante do Moinho do Tucum.
A vista privilegiada aumentava seu poder de domínio territorial. Como eram quatro e sempre estavam juntos, tinham uma força descomunal e se as lutas fossem em campo aberto, enfrentavam dez facilmente. Capoeiristas regionais eram temidos até pelos mestres. Capoeira de rua, com desconhecidos, não era brincadeira para qualquer um.
Os outros moleques do morro, evitavam enfrentamentos e a imposição deles era respeitada e temida. Os "donos das bocas do morro", contavam com eles para os serviços sujos, em troca do vil metal. Entre o levar e o trazer, a cooperação era garantida e a menor idade era uma arma importante para os maiores de idade, a estratégia funcionava como uma luva.
A adolescência e juventude foi marcada pela entrada na organização criminosa e no comando de parte da boca que ligava o Morro ao centro de Salvador. O domínio era absoluto, os cordões de ouro, a grana fácil e as noites na roda de samba, do cabaré e botiquín, até as sextas no terreiro de candomblé eram itinerários certos.
Eles riam e brincavam com a ideia de serem os quatro elementos e nunca sabiam ao certo quem era a Terra, o Fogo, a Água e o Ar. Mas a sua Mãe de Santo, essa sim, sabia com certeza. Esses meninos moleques viraram homens e hoje são velhos guerreiros que, tomaram tento e vivaram comerciantes formais. Eles lembram que nem sabem como escaparam de todos os perigos do mundo, mas a sua Mãe de Santo, sempre soube dos poderes dos seus Orixás.
*Por Belarmino Mariano. Imagem das redes. Crônica para Novembro.
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