Mãe é mãe, a minha é divina, pois teve 21 partos, dos quais sobreviveram 13 filhos e filhas.
Uma leonina de 1.50 m, brava e determinada. Não alisava preguiçoso e com ela, se escrevesse e não lesse, o pau comia. Melhor, um cinturão de couro que ela deixava sempre ao alcance da vista em um armador de rede.
Minha mãe era de 1918, natural de cabaceiras, no Cariri paraibano e casou muito cedo. Com isso teve filhos muito cedo também. Sem terras próprias para trabalhar, se casou com seu Mariano Belarmino, vaqueiro e camponês também sem terra. Sempre trabalhando em terras alheias, migraram para o vale do Pajeú e lá em Pernambuco viveram em diferentes propriedade, entre São José do Egito e Itapetim.
Como teve 7 filhos cegos, a duras penas trouxe a família para o Instuto dos Cegos em João Pessoa. Então vivemos em João Pessoa, Conde e Bayeux.
A vida de minha mãe não foi fácil e muitos dos seus filhos mais velhos acabaram migrando para o sudeste e por lá ficaram, vindo aos seu encontro em raros períodos de férias e quando lhes sobrava dinheiro, sempre lhe enviavam alguma coisa dentro de cartas e pelos os correios.
Dona Gessi era temente a Deus e quando as coisas estavam difíceis ela dizia "- isso é o comunismo do fim do mundo". Criou 13 filhos, além umas sobrinhas que passaram bons tempos em nossa casa.
Quando ela não conseguia ir para a Igreja de São Sebastião, assistia a missa no rádio mesmo e aí de quem atrapalhasse. Com certeza, depois da missa em ela dava uns esbregue daqueles.
Ela adora plantas, roseiras e muitas vezes, ficava escondida no jardim, pois quando o jogo de bola era na frente de casa e a bola quebrava suas plantas ela cortava em duas bandas e jogava de volta. Essa era Dona Gessi e não tinha conversa.
Se a gente arrumasse briga no meio da rua e chegasse aos seus ouvidos, levava umas peias. As vezes a gente apanhava na rua e em casa.
Se a gente levasse uma namorada em casa, minha mãe abria logo o jogo e entregava a nossa paçoca. Dizia na cara, é um preguiçoso, deixa a zorba feito um 8 no meio do quarto e as roupas tudo espalhadas, mentiroso, safado e enrolão, você é uma das duas ou três que ele já trouxe aqui em casa.
Com minhas irmãs não era diferente, quando não contava, ela sempre ameaçava contar os podres delas, principalmente quanto a preguiças, que era a coisa que ela mais detestava.
Ela sempre dava boa noite ao repórter ao final do Jornal Nacional e na segunda parte da novela das nove já estava cochilando na frente de um TV amarela de 12 polegadas com tela preto e branco e um bombril na antena para diminuir o chuvisco na imagem.
Lembro que gostava de comprar sandálias para ela no dia das mães e lembro que ela usava para ir à missa aos domingos. Às vezes a gente juntava os dinheiros dos irmãos que trabalhavam e comprava um presente maior, que sempre era algo para a nossa casa.
Quando tinha jogo do Brasil ela se empolgava e dizia, vai meu fi, vai meu fi dos outros. Se o Brasil fizesse um gol, era uma alegria muito grande.
Minha mãe era semi analfabeta, mas tinha uma letra linda. Ela sabia escrever e ler bem pouco, era uma coisa rara ter mães alfabetizadas na classe trabalhadora.
Limpeza era uma das coisas que ela mais levava a sério. Lembro das muitas vezes que ela puxava a gente já grande pela orelha, pegava um pedaço de telha e uma bucha natural, uma bola de sabão de sebo e só nos soltava quando nossos couros estavam limpos.
Nosso banheiro tinha um tanque e a água era de cacimbão, aquela água era gelada e não tinha esse negócio de alisar ninguém.
Quando a gente reclamava, vez por outra, vinha um tabefe e um esbravejo tipo, "mucunã rasteira" seguido de um "infiliz das costas ocas", "cão coxo", "respeita tua mãe, que ela não é tua parecera não", "sai fora cavalo batizado", e muitos outros bons dizeres.
Nunca esqueço quando ela resolvia tirar o sábado para fazer uma geral. Lavar a casa, era com muita água e sabão em pó. A geladeira era desligada na sexta -feira e a lavagem era com muita água e detergente.
Minha mãe não era uma peça, mas sua vida daria um romance, como ela mesma dizia.
Ela era fuxiqueira, mas sempre dizia, Deus me livre, nem de fofoca eu gosto, mas em seguida dizia, conta, conta, sempre rindo das nossas histórias.
Comida lá em casa era para um batalhão e quase sempre comia-mos todos juntos e quando alguém estava fora, ela fazia logo um prato, cobria com outro e guardava enrolando em um pano de prato.
Nunca me esqueço de sua lata de biscoito São Luiz, que tinha um mapa do Brasil ilustrado. Nessa lata ela guardava suas linhas, agulhas, dedal, cartas dos familiares e fotografia em papel e binóculos.
Dona Gessi era uma mãe raíz, aos domingos ela gostava de fazer um pirão com um braço de boi e farinhyde mandioca. Hum como era gostoso.
Sempre criou galinha e no quintal tinha um canteiro de coentro, cebolinha e pimentão, nas águas que escorriam da pia para um sumidouro no quintal, sempre se formavam touceiras de tomates.
Minha mãe fazia cangica, pamonha, milho cozido, mungunzá salgado e com torcinho.
Ela fazia picadinho, buchada de bode e suas galinhas do próprio quintal eram imbatíveis, aquela gracinha com farinha e o feijão verde. Aí meus deuses!!!
Ele mesma fazia tapioca, beiju e quando a gente ficava doente, ela fazia cabeça de galo (um caldinho com piydo reino, ovo cozido e outros temperos). Se a doença fosse forte e a gente ficasse acamado, ela servia guará com bolacha creme cracker ou biscoito maria.
Na minha casa, minha mãe sempre mantinha uma garrafa de café e im pote com bolachas secas. Ninguém chegava lá em casa que saísse sem tomar uma xícara de café.
Minha mãe era uma baixinha linda e tinha um cabelo bem fininho. Quando ela partiu eu me perdi por uns dois anos inteiros, trabalhava, estudava e sentia muito a sua falta. Eu era o caçula dos meninos e sei o quanto uma mãe é significativa.
Essa é uma das poucas fotografias de Dona Gessi e Seu Mariano sentados no cacimbão da nossa casa. Te amo, minha mãe divina!
Agradeço a Ierecê Lucena pela melhoria na fotografia.
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