quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Manifesto Sobre as Abstrações da Saudade

Por Belarmino Mariano.

O que escrevo hoje é um manifesto sobre tristezas, lembranças e esquecimentos vividos e que se resumem em abstrações da saudade dilacerante em te amar.

Não se trata de uma apologia à tristeza, saudade ou solidão, pois as lembranças e memórias são companheiras inseparáveis e sistematicamente se rebelam, relembrando alegrias e tristezas do que foi vivido.

Ontem me peguei marejado de lembranças e as lágrimas escorridas eram líquido salgado que só a saudade matadeira derrama da gente sem dó nem piedade.

Ontem a noite me peguei a chorar muito, derramando lágrimas salobras, que escorriam pelo meu rosto como riacho escorre água pelos lajeados em lodo.

Chorei tanto, mas tanto, que as lágrimas tinham sabor de coração partido e espremido pela solidão de um amador que ama a dor de amar o teu olhar de caleidoscópio em labirintos infinitos.

Mesmo chorando me dispus a fazer um chá de sementes de erva-doce e aquele vapor de água em ebulição me acalmou a alma e minhas palpitações desaceleraram um pouco.

Depois de me derreter em lágrimas, tomar uns pequenos goles de erva-doce, fiquei horas espiando pela Janela da memória, com os olhos fixos ao nada e ao vazio do mundo escuro, procurava brechas para o passado e imaginando o quanto te perder, foi como nunca mais me achar.

O tempo é uma ilusão, mas estamos presos a esse tecido de memória e abstração imaginativa que chamamos cognitivo tempo. E pensar em você me faz lembrar da ideia do acaso e do nada entre nossos olhares apaixonados.

Essa loucura que é te amar não se mensura e vejo que, sem luz, perdi de ver o brilho dos teus olhos, mas minha mente insiste em não te perder de vista.

Você exerce fascínios em minha mente e a perturbadora saudade, me joga em um déjà vu sonhado que se repete em minhas lembranças, como loopings intermináveis, como os circulos ou aneis de Saturno, a deriva no oceano cósmico da via láctea.

Saudade e solidão como mulheres que estão em intermináveis conversas sobre o tempo e o clima. São parentes próximas e moram na mesma esfera celeste, se alimentam de lembranças e perdas, como se a vida fosse um perde e ganha danado e que não temos como controlar.

Senti a tua falta, te procurar em arriscado sobrevoou mental e nada encontrar é como mergulhar nas ilusões do passado, escolhas que não voltam atrás, pois o passado é uma quimera de nossas vagas lembranças sem sentido.

A saudade é um emaranhado de lembranças que nos conectam com o mundo, em que tudo foi desintegrado e se perdeu para sempre, mas as memórias que a mente consegue explorar, revelam em nossas prisões da solidão um gigantesco e frio vazio. 

Mesmo assim, te encontrar nessas abstrações metafóricas da memória é desesperador e não te sentir por perto me dá o mesmo frio no pé da barriga que foi de ver pela primeira vez.

Estar preso às fitas amarrotadas da saudade é um dilacerante e descontrolado ciclo de ilusão ao qual não temos saídas. São emoções, sentimentos e desejos que não temos como controlar de maneira consciente.

A saudade arranca pedaços de minha vida atual e o vai e vem da memória é um turbilhão de experiências que se perderam e só existem nas lembranças e nas ilusões de um tempo que não existe.

No grande silêncio do nosso passado, tudo é solidão e frio, em zonas mortas e escuras. Mas com uma velha laterna de conexões neurais, encontro maneiras de te encontrar, mesmo que seja no vazio e no escuro universo da antimatéria.

Minha saudade é pura abstração, mas insiste em permanecer ativa, mesmo que, nos escombros e regiões mortas do estranho passado, onde só a saudade consegue penetrar, como se procurasse sentido e existência onde nada existe.

No quebra-cabeça de nós faltam varias peças e muita coisa não se encaixa mais. Lembra quando você disse que não dava mais, que tinha que ser assim e ponto final?

Que ponto final que nada, choramos juntos, relembramos dos nossos sentimentos, revivemos as nossas experiências e fizemos um passo a passo dos nossos acertos e erros. 

Naquele momento existia lógica e fazia sentido, pois a vida nos empurava para outras frustrações, novas tentativas e outras possibilidades de quebrar a cara. Quem sabe outros carnavais e as mágoas seriam mergulhadas nas piscinas do esquecimento .

De que adianta achar que a saudade chega ao fim, se ela não tem limites, nem fronteiras? Basta um descuido em nossos mapas mentais e as lembranças derramam rios caudalosos do que vivemos juntos.

Mas isso não é o pior, pois as lembranças nos obrigam a imaginar utopias que as coisas tivessem sido diferentes. Aí você pega a sua vida e se põe a pensar no que não foi tudo isso?

Nos chamam de sapiens, sapiens, meio confirmando que temos uma consciência de que somos racionais. Mas nada dizem sobre essa revolução cognitiva dos nossos sentimentos, emoções, desejos e vontades. 

Não é apenas o nosso pensamento e a nossa razão das coisas. Isso é importante sim, mas não é e nunca será tudo. Só quem já sentiu nas entranhas da carne viva e no tecido externo da pele nua, os calafrios de amar, sabe que sabe, que a biologia não consegue explicar de onde vem nossos sentimentos.

"Nem só de pão vive o homem!"

A verdade dos poetas é feita de palavras e outras palavras, umas rimadas outras nem tanto, mas as verdades dos poetas são verdades de verdade, disso não tenho dúvidas.

As verdades dos poetas são feitas de palavras como pão e vinho, tinto, branco ou rosé e na verdade vos digo, poetas alimentam e matam a sede dos famintos de sentidos para a vida.

As velas dos poetas clareiam com palavras toda a obscuridade da noite fria e sem luz. São luminárias para respingar estrelas cadentes do céu de tua boca, atmosfera úmida a deslizar em tua língua nua.

As velas dos poetas nos levam para o alto mar das palavras, sem sairmos do cás do porto e alegres navegamos como marujos e piratas alados, sem o medo das tempestades.

Poetas são assim, um pouco de ti outro pouco de mim, poetas são palavras ao vento, que tocam nossa pele macia e como uma fina lâmina pode cortar toda nossa carne até tocar o fundo da alma e da alegria dos amores partidos e dilacerados.

Os punhais afiados dos poetas são palavras fundidas em brasa e chamas ardentes, como o fogo da paixão e o calor dos corpos flamejantes e desnudos que se lambem em mel e suor do orgasmo.

Do céu da tua boca, mergulho sem para-quedas em busca de tua língua úmida e encontro um abismo gostoso sabor agridoce de sábado a noite. 

A tua alma, calma e alegria consomem meu ser e viro arco e flecha a te flechar com as flechas do olhar. Fico sem palavras e me desmancho em pura poesia.
.....!.....!.....!.....
*Belarmino Mariano. Imagens das redes sociais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário