sexta-feira, 21 de março de 2025

Encontro Incidental de uma Porca de Parafuso Enferrujada

Por Belarmino Mariano 

Parei o que estava fazendo para apanhar essa porca de parafuso, perdida no meio da rua. Era uma velha porca de ferro enferrujada, daquelas pequenas e úteis.

Certamente se desprendeu de alguma motocicleta, carro e até mesmo de uma bicicleta. Aqui estava ela, debaixo da tamarineira, perdida no tempo-espaço do calçamento em paralelepípedo.

Certamente é uma porquinha perdida a poucos dias, pois quase todos os dias, varro essa área para apanhar as pétalas das flores da tamarineira. Pétalas que são ótimas para adubar meu jardim.

Também encontrei esse pedaço de arame de amarração, um resto do recente trabalho de troca da cerca de arame farpado da capela de São João. Aqui na esquina de minha casa.

Fiz uma pequena instalação e agora, esta pequena porca está presa a esse arame e dependurada em um fino galho da tamarineira. Uma trama perfeita para desafiar algumas leis da física. Certamente a da gravidade, pois não terá como descer sozinha e agora é uma porca dependurada no ar.

Com elas existe uma intrincada matemática, marcada pelo diâmetro, altura, distância do chão e peso combinado a suspensão forçada. Para que foi se soltar das suas outras engrenagens mecânicas? 

Perdeu a força, a pressão ou foi a constante trepidação dos buracos e irregularidades do calçamento? Agora deve estar fazendo falta, em algum lugar, alguém está sentindo a sua falta. Talvez já tenha até lhe substituído.

Poderia ter caído em qualquer outro lugar, mas foi cair justamente embaixo da tamarineira da esquina de minha casa. Agora ficará em um lupion existencial, complexo acaso de um pêndulo aramado.

Será que alguém fez algum comunicado, algum aviso colado em uma parede ou poste: "Procura-se uma pequena porca de parafuso enferrujada. Quem encontrou favor ligar para XXX e será bem recompensado".

Aqui nesse pequeno colóquio textual, fiz questão de colocar uma imagem de uma porca novinha em folha, só para contrastar essa condição física do ferro enquanto mineral fundido pela siderúrgica e metalúrgica 

Aqui também vale apena refletir sobre a biologia vegetal, pois pequenas flores e folhas da tamarineira, em tons verdes e amarelo, compõem esse novo cenário de uma porca instalada em seu sistema.

Minha varredura, quase sempre matinal, alerta para o paradigma indiciário, pois em pequenas coisas e situações, existe uma ciência a ser estudada. 

O desafio é saber se alguém vai perceber essa instalação e encontrar a pequena porca amarrada a essa galha. Será?

Por Belarmino Mariano. Imagem do autor e redes sociais.

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